Uma imagem que viralizou nas redes sociais nesta semana mostra um suposto apoiador do ex-presidente americano Donald Trump usando uma camiseta com uma frase chocante: "Eu não ligo se Trump é pedófilo". No entanto, a fotografia foi completamente adulterada por inteligência artificial, conforme comprovou uma análise técnica especializada.
Como a falsificação foi descoberta
A publicação falsa circulou amplamente na plataforma Threads na segunda-feira (17), onde acumulou mais de 3,5 mil curtidas. O post original questionava: "O que há de errado com vocês, MAGAs?", em referência ao movimento de apoiadores de Trump.
Para verificar a autenticidade do conteúdo, a equipe do Fato ou Fake submeteu a imagem ao DecopyAI, uma ferramenta especializada em detectar conteúdos gerados por inteligência artificial. O resultado foi conclusivo: 99% de probabilidade de que a foto havia sido manipulada digitalmente.
O diagnóstico técnico apontou inconsistências gráficas evidentes na camiseta do suposto apoiador. "A textura e as dobras do tecido da camisa parecem naturais, mas o texto 'I DON'T CARE IF TRUMP IS A PEDOPHILE' parece digitalmente alterado", explicou o relatório. As letras estavam incomumente nítidas e perfeitamente alinhadas sobre a superfície irregular do tecido, algo pouco comum em fotografias reais.
A versão original da foto
Através de uma busca reversa no Google Lens, os verificadores de fatos localizaram a imagem original, publicada em 5 de outubro de 2018 no Flickr pela fotógrafa Lorie Shaull. No registro autêntico, o apoiador de Trump aparece usando uma camiseta com a mensagem "Trump e Pence 2020", referindo-se à chapa republicana que concorreria às eleições presidenciais daquele ano.
A fotógrafa documentou que a cena mostrava um apoiador aguardando para entrar em um comício de Trump em Rochester, Minnesota. A imagem genuína nada tinha a ver com a mensagem polêmica que circulou nas redes sociais quase seis anos depois.
Contexto político do caso
A viralização da foto falsa ocorreu em meio aos recentes desdobramentos do caso Jeffrey Epstein, o bilionário envolvido em uma rede de tráfico sexual de menores nos anos 2000. Trump mantinha amizade com Epstein por muitos anos, até romper relações quando as denúncias vieram à tona.
O timing da publicação coincide com debates recentes sobre a divulgação dos arquivos de Epstein. Inicialmente resistente à ideia, Trump mudou de posição e em 16 de novembro apoiou a liberação dos documentos. Três dias depois, o Congresso americano aprovou por ampla maioria a abertura total dos arquivos, e na quarta-feira (19) Trump sancionou o projeto de lei.
Especialistas em desinformação alertam que a manipulação de imagens por IA tem se tornado uma ferramenta comum na guerra política digital. "É crucial que os usuários das redes sociais desenvolvam senso crítico e verifiquem a fonte das informações antes de compartilhar", recomenda um analista de mídia.
O caso serve como mais um alerta sobre os perigos da inteligência artificial mal utilizada e a importância do jornalismo de verificação em tempos de eleições polarizadas em todo o mundo.
