Na COP30, realizada em Belém, o combate às mudanças climáticas ganhou um novo front: a luta contra a desinformação que ameaça sabotar os acordos internacionais. Batizada de "COP da verdade" pelo governo brasileiro, a conferência reconheceu oficialmente que as fake news sobre o clima deixaram de ser um problema das redes sociais para se tornar um obstáculo concreto às negociações.
O pacto pela informação confiável
Pela primeira vez na história das conferências do clima, 13 países assinaram uma declaração conjunta para enfrentar o negacionismo climático e promover informações confiáveis. O enviado especial para integridade da informação, Frederico Assis, explicou durante participação no programa Ponto de Vista da VEJA que este não é apenas um "discurso bonito", mas um chamado à ação para governos, empresas e sociedade civil.
O documento reconhece explicitamente que a desinformação pode sabotar tudo o que é negociado nas salas da COP. Assis citou um estudo do MIT que revela dados alarmantes: mentiras se espalham até 70% mais rápido do que notícias verdadeiras. "O boato pega carona no choque e na teoria da conspiração, enquanto a ciência chega de transporte público", brincou o enviado especial.
O cenário da desinformação climática
Fora dos documentos oficiais, o roteiro de desinformação segue um padrão preocupante:
- Posts virais afirmando que "sempre fez calor"
- Vídeos que juram que o aquecimento global é invenção para "controlar a economia"
- Correntes que distorcem dados sobre desmatamento ou eventos extremos
O resultado é um terreno fértil para dúvidas, cansaço e descrédito, justamente quando os governos tentam convencer suas populações a apoiar transições caras e complexas para economias de baixo carbono. Nesse contexto, informação técnica demais vira ruído, enquanto informação simples demais vira meme.
O desafio da comunicação científica
Frederico Assis deixou claro que a solução não está em assustar o mundo com cenários apocalípticos. Ele rejeita o catastrofismo que paralisa e defende um realismo incômodo, porém mobilizador. A ciência mostra riscos concretos e pontos de não retorno, mas também indica o que ainda pode ser feito para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
O enviado especial ressaltou o papel crucial do jornalismo profissional para filtrar, checar e explicar informações complexas. Sem reportagem séria, alertou, a "COP da verdade" se tornaria apenas mais um slogan perdido na timeline das redes sociais.
A equação que se apresenta é simples, porém nada trivial: ou a informação confiável chega às pessoas num tom que elas entendam e acreditem, ou a mentira continua ganhando de goleada no placar de cliques e compartilhamentos. Se a fake news corre mais que fogo em pasto seco, a resposta não é apagar o debate, mas maratonar a verdade - com mais transparência, mais ciência e menos fantasia travestida de opinião.
Na COP30, pelo menos, esse jogo começou a ser jogado às claras, com a luta contra a desinformação finalmente ocupando o lugar que merece na agenda climática global.