A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (16) a operação Igapó, que tem como um dos alvos o secretário de Obras Públicas do Pará, Ruy Cabral. As investigações, autorizadas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), apuram o recebimento de vantagem indevida pelo gestor para interferir em um processo licitatório.
O esquema e a suspeita de propina
De acordo com a PF, os investigadores trabalham com a hipótese de que uma organização criminosa, cuja liderança é atribuída ao deputado estadual Antônio Doido (MDB), pagou propina a Ruy Cabral. O objetivo seria garantir que o secretário atuasse para beneficiar empresas ligadas à mulher do parlamentar, Andrea Dantas, em uma concorrência pública.
A licitação em questão é a Concorrência Eletrônica nº 90014/2024, para obras viárias na "perma norte" da rua da Marinha até o Canal do Bengui, em Belém. O consórcio vencedor tem participação de empresas de Andrea Dantas.
Encontro sigiloso e saque milionário
Os investigadores relatam que um dos supostos operadores do esquema, o tenente-coronel da PM Francisco Galhardo, sacou a quantia de 6 milhões de reais. No mesmo dia em que o consórcio foi declarado habilitado na licitação, 24 de setembro de 2024, Galhardo marcou um encontro presencial com o secretário Ruy Cabral.
O encontro teria ocorrido de forma oculta, dentro de um veículo, pouco mais de duas horas após a habilitação do consórcio. Mensagens apreendidas indicariam a intenção de entrega de valores ilícitos, com uma delas citando: "Meu chefe, eu deixei com... eu deixei com a ANDREA".
Decisão do STF e desdobramentos
Em sua decisão, o ministro Flávio Dino atendeu ao pedido da PF para a realização de buscas e apreensões, mas rejeitou, por enquanto, o pedido de afastamento de Ruy Cabral do cargo. Dino ponderou que o pleito de remoção "será reexaminado após a análise de novos elementos probatórios".
A representação da PF detalha a hipótese criminal: Ruy Cabral teria recebido vantagem indevida diretamente de Francisco Galhardo, Antônio Leocádio dos Santos e Andrea Costa Danta. A finalidade seria determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à licitação, resultando na celebração do contrato administrativo.
A operação Igapó segue em andamento e é mais um capítulo de investigações sobre desvios e corrupção na administração pública paraense, agora envolvendo diretamente um alto escalão do governo do estado, comandado por Helder Barbalho.