Uma denúncia anônima sobre movimentações suspeitas de grandes quantias em dinheiro vivo foi o ponto de partida para a Polícia Federal (PF) desbaratar uma complexa rede de corrupção dentro da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau). Os documentos obtidos com exclusividade pela TV Asa Branca revelam os detalhes da operação Estágio IV, deflagrada na terça-feira, 16 de dezembro de 2025.
O esquema e os principais envolvidos
De acordo com as investigações, o prejuízo aos cofres públicos pode chegar a impressionantes R$ 100 milhões, recursos desviados do Sistema Único de Saúde (SUS). A PF aponta como líder do esquema o então secretário de saúde, Gustavo Pontes de Miranda, que foi afastado do cargo por determinação judicial por um período de 180 dias.
As atenções também se voltaram para a fisioterapeuta Andreia Araújo Cavalcante, identificada pela polícia como suposta amante de Pontes de Miranda e uma das beneficiárias do desvio. Um depósito de R$ 50 mil via PIX feito para Andreia foi a pista crucial. Apesar de ser proprietária de uma pequena loja de roupas em Brasília e ocupar um cargo comissionado na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), a fisioterapeuta mantém um padrão de vida considerado incompatível com sua renda declarada, incluindo uma residência de alto padrão avaliada em mais de R$ 1,5 milhão.
O elo da corrupção: a clínica NOT
O pagamento suspeito à fisioterapeuta foi realizado pelo médico ortopedista Reinaldo Fernandes Júnior. Ele é sócio-administrador do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia (NOT), uma clínica privada em Maceió que se tornou peça central no esquema. A PF identificou que Reinaldo seria o operador responsável por desviar os recursos públicos para o secretário afastado.
Os documentos mostram uma relação comercial de conveniência. Gustavo Pontes e Reinaldo Fernandes eram sócios no NOT até um mês antes de a clínica ser incluída no programa federal Mais Saúde Especialidades. Já na posição de secretário, Pontes teria autorizado a entrada da empresa no programa mesmo sem a apresentação completa da documentação exigida.
A PF afirma que, atualmente, a clínica continua atendendo pelo programa, mas em situação considerada precária, o que coloca em risco a qualidade do serviço prestado à população.
Operação e próximos passos
A operação Estágio IV resultou na apreensão de vultosas quantias em dinheiro, tanto em moeda nacional quanto estrangeira, evidenciando a magnitude do esquema. As investigações seguem em andamento para mapear toda a extensão da rede e identificar outros possíveis envolvidos.
A produção da TV Asa Branca e do g1 tentou, desde a quarta-feira (17), obter um posicionamento de todos os citados na reportagem. O texto será atualizado caso haja resposta dos investigados.
O caso expõe uma grave falha no controle de verbas públicas destinadas à saúde e reforça a importância de mecanismos de auditoria e denúncia para combater a corrupção em órgãos estaduais.