Operação Alvitre II prende mais 2 por desvio de R$ 27 mi em Ipojuca
Operação Alvitre II prende suspeitos de desvio milionário

Nova fase da operação resulta em prisões e apreensões

A Polícia Civil de Pernambuco cumpriu nesta quarta-feira (19) mais uma etapa da Operação Alvitre II, resultando na prisão de duas pessoas suspeitas de participação no desvio de mais de R$ 27 milhões em emendas parlamentares no município de Ipojuco, região metropolitana do Recife.

Entre os detidos estão o presidente do Instituto Filhos de Ipojuca, entidade vinculada ao vereador Flávio do Cartório (PSD), que também preside a Câmara Municipal, e um empresário prestador de serviços para a prefeitura. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados pelas autoridades.

Esquema milionário envolve instituto ligado a vereador

De acordo com as investigações conduzidas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o Instituto Filhos de Ipojuca recebeu mais de R$ 12 milhões entre os anos de 2022 e 2025. O delegado Ney Luiz Rodrigues, responsável pelo caso, revelou que "as investigações demonstraram, através de diversas diligências, que a associação, na verdade, pertence a ele [Flávio do Cartório]".

O instituto, que inicialmente recebia cerca de R$ 250 mil para manter escolinhas de futebol na cidade, passou a movimentar valores milionários após a inclusão dos repasses parlamentares. A entidade também começou a oferecer serviços de saúde sem possuir a estrutura necessária para tal finalidade.

"A partir da suspensão de um pagamento para uma determinada associação que sequer existia, os vereadores encaminharam o valor, que seria dessa outra associação, para a associação do vereador [Instituto Filhos de Ipojuca]. Foi quando alteraram a finalidade da associação e passou a ofertar serviço na área de saúde também", explicou o delegado.

Prisões anteriores e contexto do caso

Na noite de terça-feira (18), um dos três mandados de prisão expedidos já havia sido cumprido contra o presidente da Câmara Municipal de Ipojuca, Flávio do Cartório (PSD). Ele e o vice-presidente da Casa, Professor Eduardo (PSD), foram detidos em um supermercado no Recife com aproximadamente R$ 17 mil em espécie, em circunstâncias que podem caracterizar lavagem de dinheiro.

Além das três prisões, a segunda fase da operação cumpriu 19 mandados de busca e apreensão nas cidades do Recife, Bezerros e Ipojuca. Os detalhes da ação foram apresentados na sede do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPPE, localizada no bairro do Torreão, Zona Norte do Recife.

Esquema de desvio de emendas impositivas

O esquema criminoso envolvia o uso de emendas parlamentares impositivas, mecanismo através do qual vereadores destinam parte do orçamento municipal - geralmente em torno de 2% da Receita Corrente Líquida - para projetos e áreas específicas. Em Ipojuca, município com o terceiro maior PIB de Pernambuco, essa porcentagem equivale a aproximadamente R$ 40 milhões.

A promotora de Justiça Katarina Gouveia detalhou que "houve uma alteração na lei orgânica do município e hoje eles podem 'emendar' o orçamento do município em 2%. Isso dá em torno de uns quase R$ 40 milhões".

Além do Instituto Filhos de Ipojuca, outras instituições também foram beneficiadas pelo esquema investigado, incluindo o Instituto de Gestão de Políticas Públicas do Nordeste (IGPN), que recebeu pelo menos R$ 6,3 milhões de nove emendas parlamentares.

Repercussões políticas e investigações em andamento

O PSD de Pernambuco emitiu nota informando que acompanhará as investigações referentes às prisões dos vereadores filiados ao partido e que, "assim que o processo legal for concluído, adotaremos as medidas cabíveis". Os advogados dos vereadores não quiseram se manifestar quando procurados pela reportagem.

A promotora Katarina Gouveia afirmou que o Ministério Público continua investigando o caso e que a denúncia ainda não foi enviada ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). "Seguimos investigando até porque não oferecemos denúncia ainda. Estamos na fase da análise do material recolhido para poder oferecer a denúncia. Ainda falta evidências recolhidas para serem analisadas", declarou.

As investigações da Operação Alvitre seguem em andamento, com perspectiva de novas descobertas sobre o esquema de desvio de recursos públicos em Ipojuca.