Ex-vereador Marlon Luz é exonerado da Prodam após investigação sobre cestas básicas
Ex-vereador exonerado por distribuir cestas da Prefeitura

Ex-vereador perde cargo após polêmica com cestas básicas e rifas

A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (26) a exoneração do ex-vereador Marlon Farias Luz, conhecido como "Marlon do Uber", do cargo de assessor da diretoria na Prodam. O político recebia um salário de R$ 28.227,54 na empresa de processamento de dados da administração municipal.

A decisão ocorre após uma investigação revelar que Marlon Luz estaria envolvido na distribuição de cestas básicas da Prefeitura por meio da associação "Sorte Grande entre Amigos", que promove rifas online. A Controladoria Geral do Município (CGM) apura se a entidade privada distribuía as cestas como se fossem adquiridas com recursos das rifas, quando na verdade são custeadas pelo programa Cidade Solidária da Secretaria Municipal de Direitos Humanos.

Operação com rifas ilegais e cestas públicas

A associação "Sorte Grande entre Amigos" está registrada na Receita Federal como entidade privada e tem sede na Rua Diogo de Faria, na Vila Clementino, mesmo endereço do escritório político do ex-vereador. Com Marlon Luz como garoto-propaganda, a entidade realiza rifas de carros zero quilômetro e prêmios em PIX de até R$ 30 mil.

Este tipo de sorteio é considerado ilegal no Brasil, segundo o Ministério da Fazenda, configurando contravenção penal. A única forma permitida de sorteio com venda de bilhetes no país é a realizada por entidades beneficentes, conforme autorização da Lei 5.768/1971.

Vídeos publicados pela própria entidade no Instagram mostram ações sociais com distribuição de cestas básicas que, em algumas ocasiões, são fornecidas pela Prefeitura de São Paulo. Nas imagens, o grupo se esforça para não mostrar o logo da Prefeitura estampado nas caixas, enquanto as logomarcas da associação de rifas aparecem com destaque.

Números reveladores do caso

Consulta ao site de acompanhamento do "Cidade Solidária" revela que a Sorte Grande entre Amigos recebeu 546 cestas básicas da Secretaria de Direitos Humanos desde 2023. Em 2024, ano de eleição municipal, foram 276 cestas, contra 84 em 2023 e 186 até setembro de 2025.

Em uma das publicações, o ex-vereador afirmou: "Aqui estamos com a distribuição das cestas, vindo da arrecadação Sorte Grande entre amigos. Quando você participa dos sorteios, você também está ajudando a comunidade". No entanto, as cestas eram provenientes de recursos públicos.

Defesa do ex-vereador e posicionamento oficial

Por meio de nota, a Prodam afirmou que as rifas promovidas por Marlon Luz "são sorteios filantrópicos gratuitos, sem venda de bilhetes" e que a promoção não viola a Lei de Improbidade nem o Estatuto do Servidor Público. A empresa também destacou que as cestas "foram distribuídas em eventos oficiais, com logo obrigatório" e que "todas as condutas são lícitas".

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania informou que a associação está cadastrada desde 2023 e "não há qualquer impedimento para divulgação desse trabalho", mas confirmou que a Controladoria Geral do Município abriu processo administrativo para apurar o caso.

Trajetória política e profissional

Marlon Luz era motorista de aplicativo até 2020, quando foi eleito vereador por São Paulo com 25.643 votos após uma campanha modesta pelo WhatsApp. Durante o mandato, abandonou o apelido "Marlon do Uber" devido a disputa judicial com a empresa e trocou o partido Patriotas pelo MDB do prefeito Ricardo Nunes.

Em 2024, tentou a reeleição com gastos de mais de R$ 759 mil, mas obteve apenas 25.847 votos e não conseguiu se manter na Câmara Municipal. Quatro meses após o fim do mandato, em abril de 2025, foi contratado pela Prodam com salário superior ao que recebia como vereador.

A associação "Sorte Grande entre Amigos" tem como presidente Elaine Cristina Santos Damásio, que trabalhou na Câmara Municipal de SP entre abril de 2024 e janeiro de 2025. Os administradores incluem Lucas Farias da Luz - parente do ex-vereador - e Letícia Patrício da Silva, que atuava como assistente financeiro da empresa Luz Digital, cujo sócio é o próprio Marlon Luz.