Militares dos EUA mostram vídeo de ataque a sobreviventes no Caribe
Vídeo mostra ataque dos EUA a sobreviventes no Caribe

Autoridades militares de alto escalão dos Estados Unidos apresentaram a membros do Congresso americano, nesta quinta-feira (4), um vídeo que registrou um ataque controverso no Caribe. As imagens mostram o momento em que uma embarcação foi alvejada no dia 2 de setembro, em uma ação onde Washington eliminou sobreviventes de uma primeira explosão.

Operação antidrogas sob questionamento

As operações militares na região, que ocorrem há três meses com a justificativa de combate ao narcotráfico, agora enfrentam sérias questões legais. O ato de matar pessoas feridas em um ataque, mesmo em um cenário de conflito armado, é considerado ilegal pelo direito internacional humanitário. O vídeo foi exibido aos parlamentares pelo almirante Frank Mitchell Bradley, chefe do Comando de Operações Especiais Conjuntas na época, e por Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto.

O deputado democrata Jim Himes, de Connecticut, que é a principal voz do partido no Comitê de Inteligência da Câmara, descreveu a cena a jornalistas. "Você tem dois indivíduos em claro perigo, sem qualquer meio de locomoção, com uma embarcação destruída, que foram mortos pelos EUA", afirmou. Para ele, o material foi "uma das coisas mais preocupantes" que já viu.

Divergências e acusações entre autoridades

Segundo relatos, o almirante Bradley teria dito aos legisladores que não recebeu uma ordem específica para matar todos a bordo. No entanto, uma reportagem do jornal The Washington Post indica que a ordem teria partido do secretário de Defesa, Pete Hegseth. A revelação aumentou a pressão sobre Hegseth, que já estava sob críticas por usar um aplicativo de mensagens pessoal para discutir operações sensíveis.

Do lado do Senado, o democrata Jack Reed, de Rhode Island, líder no Comitê de Serviços Armados, disse estar "profundamente perturbado" e defendeu que o vídeo fosse tornado público. "Este briefing confirmou meus piores temores sobre a natureza das atividades militares da gestão Trump", declarou Reed em comunicado.

Defesa republicana e justificativas legais

Políticos republicanos saíram em defesa dos militares. O senador Tom Cotton, do Arkansas, afirmou ter visto "dois sobreviventes tentando virar de volta um barco, carregado de drogas destinadas aos EUA". Já o deputado Rick Crawford, também do Arkansas, emitiu declaração sustentando a legalidade dos ataques.

Antes da reunião, um funcionário americano adiantou que Bradley justificaria o segundo ataque alegando que os sobreviventes ainda eram alvos legítimos, pois acreditava-se que a embarcação continha narcóticos. No entanto, o direito internacional só permite ataques a pessoas que representem uma ameaça iminente, a menos que sejam combatentes em um conflito armado declarado – situação que não se aplica ao Caribe. Mesmo em guerra, atacar combatentes feridos constitui crime de guerra.

O incidente resultou na morte de 11 pessoas. Os Estados Unidos acusam as vítimas de tráfico de drogas, assim como as dezenas de mortas em outros 20 ataques realizados desde o início das operações, mas não apresentaram evidências públicas para sustentar as acusações.