O governo ucraniano anunciou neste sábado (22) que iniciará um período de consultas com seus principais aliados para discutir uma proposta americana de paz que pode pôr fim à guerra com a Rússia, que já dura mais de três anos e meio.
Pressão americana e resposta ucraniana
O anúncio ocorre um dia depois de os Estados Unidos pressionarem o presidente Volodymyr Zelensky a aceitar o plano de paz elaborado pela administração do presidente Donald Trump. O governo ucraniano emitiu um comunicado afirmando que "a Ucrânia jamais será um obstáculo à paz", mas que seus representantes defenderão "os legítimos interesses do povo ucraniano".
Zelensky autorizou uma delegação especial para discutir os parâmetros do acordo com os Estados Unidos e países europeus como Reino Unido, França e Alemanha. Oficialmente, o presidente ucraniano vem evitando criticar a proposta diretamente para não criar atritos com Trump, mas exigiu que se respeite "a soberania da Ucrânia".
Os pontos polêmicos do plano de paz
O plano, elaborado pelos governos de Donald Trump e Vladimir Putin, inclui 28 pontos que representam concessões significativas por parte da Ucrânia. De acordo com esboço obtido pela agência AFP, as principais disposições são:
- Cessão das regiões de Donetsk e Luhansk para a Rússia, correspondendo a mais da metade do território atualmente ocupado por tropas russas
- Reconhecimento internacional da anexação da Crimeia pela Rússia
- Divisão das regiões de Kherson e Zaporizhzhia segundo a linha de frente atual
- Redução das Forças Armadas ucranianas de 900 mil para 600 mil efetivos
- Inclusão na Constituição ucraniana da renúncia à adesão à Otan
- Divisão da usina nuclear de Zaporizhzhia entre Rússia e Ucrânia
Reações internacionais e contexto militar
Líderes europeus demonstraram preocupação com os termos da proposta. O presidente francês Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o chanceler alemão Friedrich Merz realizaram uma ligação conjunta com Zelensky, onde asseguraram apoio europeu à Ucrânia, mas também elogiaram "os esforços de Donald Trump" por buscar o fim da guerra.
Enquanto isso, o avanço militar russo continua pressionando Kiev. O chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, garantiu que suas tropas avançam "praticamente em todas as frentes". A Rússia reivindicou a tomada de Kupyansk, embora o Exército ucraniano tenha negado a perda dessa localidade estratégica.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que o plano "está em processo de negociação e ainda está em revisão", mas que Trump o apoia e acredita que "deveria ser aceitável para ambas as partes". Washington nega que a proposta esteja muito alinhada com as exigências de Moscou.