Após 5 horas de reunião, Rússia e EUA não avançam em paz para Ucrânia
Rússia e EUA não avançam em paz para Ucrânia

Após uma longa reunião de cinco horas em Moscou, os enviados dos Estados Unidos e da Rússia não conseguiram chegar a um acordo que aproxime a paz na Ucrânia. O assessor internacional de Vladimir Putin, Iuri Uchakov, afirmou à imprensa que a paz não está mais próxima, mas também não está mais distante.

Posição de força do Kremlin

Os primeiros sinais indicam que o pêndulo das negociações parece ter voltado para o lado do Kremlin. Vladimir Putin passou o dia reafirmando uma posição de força militar no país que invadiu em 2022. Em contrapartida, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, fez um apelo público para que a Ucrânia não fosse deixada de lado no debate.

Pelo lado americano, o encontro contou com a presença do enviado Steve Witkoff e do genro de Donald Trump, Jared Kushner, conhecido por se envolver em acordos que podem gerar oportunidades de negócios, mesmo sem cargo formal no governo. A delegação russa foi composta pelo negociador Kirill Dmitriev e pelo próprio assessor Iuri Uchakov.

Demandas maximalistas e ameaças

Em um evento anterior ao encontro, Putin já havia deixado claro sua posição intransigente. Ele criticou pontos "absolutamente inaceitáveis" sugeridos pela Europa em uma versão revisada da proposta de paz, desenhada por Witkoff e Dmitriev. O presidente russo estabeleceu que, para sentar à mesa, os aliados de Zelenski teriam de aceitar as demandas do Kremlin: concessão e reconhecimento territorial e neutralidade militar da Ucrânia.

Putin também fez declarações belicosas, visando isolar os EUA dos aliados europeus de Zelenski. "Se a Europa quiser lutar contra nós, estamos prontos agora mesmo", disse o russo, em uma postura que segue a linha da política de força defendida por Donald Trump.

Na véspera da reunião, Moscou anunciou avanços militares na Ucrânia, incluindo a tomada de um centro logístico vital na região de Donetsk. Nesta terça-feira, Putin afirmou ter tomado mais duas vilas no sul do país vizinho e ameaçou "isolar a Ucrânia do mar" após ataques a petroleiros russos.

Zelenski tenta manter relevância e enfrenta crise interna

O presidente ucraniano expressou temor de ser marginalizado nas discussões. Antes do encontro em Moscou, ele disse recear o desinteresse americano no conflito caso as negociações travem, um cenário que já ocorreu em outras ocasiões desde a mudança na política externa dos EUA sob Trump.

Zelenski, que estava na Irlanda após visitar a França, escreveu no X que é vital manter os parceiros europeus à mesa nas negociações – um ponto ao qual Trump dá pouca importância. Para agravar a situação, o governo ucraniano enfrenta um enorme escândalo de corrupção no setor de energia, que já atingiu seu poderoso chefe de gabinete, Andrii Iermak, que liderava as negociações de paz.

Apesar das dificuldades, Zelenski afirmou nesta terça-feira que "esta é a melhor oportunidade para a paz" e que está pronto para discutir com os americanos os termos debatidos em Moscou. No entanto, ele foi enfático ao dizer que não haverá acordo sem "decisões difíceis" e que não permitirá acordos feitos "pelas costas da Ucrânia".

A ausência dos chefes das diplomacias, Marco Rubio (EUA) e Serguei Lavrov (Rússia), alimenta especulações sobre o peso real de Witkoff e Kushner no debate e sugestões de que eles estariam jogando a favor do Kremlin. Nos Estados Unidos, Rubio repetiu que "esta não é nossa guerra", enquanto Trump comentou com repórteres: "Não é uma situação fácil, posso te falar. Que confusão". Até o momento, não houve novas manifestações após a longa reunião em Moscou.