Putin exala confiança na guerra: 3 cenários e o papel de Trump, Europa e China
Putin confiante na guerra: cenários e papel de Trump e China

O presidente russo, Vladimir Putin, demonstra uma confiança inabalável ao discutir o conflito na Ucrânia, segundo análise de especialistas e observadores internacionais. Essa postura surge em um momento em que a maré diplomática parece girar a seu favor, com avanços no campo de batalha e uma possível mudança na política externa dos Estados Unidos sob um eventual governo de Donald Trump.

As exigências de Moscou e os cenários possíveis

Analistas apontam que Putin não tem incentivos para recuar de suas principais exigências para um acordo de paz. As condições incluem a renúncia ucraniana aos 20% finais da região de Donetsk que ainda controla, o reconhecimento internacional de todos os territórios ocupados como russos, a redução do Exército ucraniano a um patamar inoperante e o abandono permanente da adesão à Otan.

Diante desse quadro, alguns desfechos são considerados prováveis. Um deles envolve o presidente americano, Donald Trump, tentando impor um cessar-fogo à Ucrânia sob condições que podem ser rejeitadas pela população local, como a cessão territorial sem garantias de segurança robustas. Trump já sinalizou que, em caso de resistência, poderia se afastar do conflito, suspendendo até mesmo o acesso vital da Ucrânia a informações de inteligência dos EUA.

Outra possibilidade é a simples prolongação da guerra, com as forças russas avançando lentamente no leste do país. A nova estratégia de segurança nacional proposta pelo governo Trump já sugere que a Rússia deixou de ser uma "ameaça existencial" e defende o "restabelecimento da estabilidade estratégica" com Moscou.

Europa, sanções e a resistência ucraniana

Enquanto a Europa se prepara para um possível cessar-fogo, articulando uma "coalizão dos dispostos" para ajudar a Ucrânia, vozes dentro do bloco defendem uma postura mais assertiva. Keir Giles, do Chatham House, argumenta que a única forma de deter a agressão russa é através da presença de forças ocidentais suficientemente fortes nos pontos de ataque, algo que enfrenta resistência política por parte do eleitorado.

No campo econômico, as sanções impostas à Rússia causam impacto, com inflação em 8%, juros a 16% e desaceleração do crescimento. Um relatório da Peace and Conflict Resolution Evidence Platform afirma que a economia de guerra russa tem hoje muito menos capacidade de financiar o conflito do que em 2022. Especialistas como Tom Keatinge, do Royal United Services Institute, criticam as brechas nas sanções e defendem um embargo total ao petróleo russo para efetivamente prejudicar a máquina de guerra de Putin.

A União Europeia debate o uso de cerca de € 200 bilhões em ativos russos congelados para um "empréstimo de reparação" à Ucrânia, mas hesita devido a riscos legais e financeiros, com a Bélgica e a França expressando preocupações específicas.

A questão do alistamento e o fator China

A Ucrânia, que possui o segundo maior exército da Europa, enfrenta o desafio de defender uma linha de frente de aproximadamente 1.300 km com soldados exaustos após quase quatro anos de guerra. A estratégia de Kiev de recrutar apenas homens entre 25 e 60 anos, preservando os mais jovens para o futuro demográfico do país, causa estranhamento em aliados, mas é vista como uma lição aprendida com os impactos devastadores da Primeira Guerra Mundial nas populações europeias.

No campo militar, ataques ucranianos em profundidade no território russo, como os que atingiram mais da metade das 38 principais refinarias do país, causam danos logísticos. No entanto, especialistas como Mick Ryan alertam que essas ações, por si só, não são suficientes para forçar Putin a negociar.

O fator imprevisível permanece sendo a China. O presidente Xi Jinping é um dos poucos líderes que Putin ouve, e a máquina de guerra russa depende fortemente de componentes chineses de uso duplo. Se Pequim concluir que a guerra não atende mais aos seus interesses, teria influência significativa sobre o Kremlin. Até o momento, porém, a China parece satisfeita em ver os EUA distraídos e os aliados transatlânticos divididos.

Para analistas como Fiona Hill, da Brookings Institution, a principal vantagem de Putin é a percepção generalizada de que a Ucrânia está perdendo. "Nada mudará a posição dele, a menos que ele saia de cena", afirma Hill. Putin aposta que, com o tempo, o moral ucraniano cairá, seus aliados se dividirão e a Rússia conquistará mais território, mantendo-se em uma posição confortável enquanto aguarda que as circunstâncias joguem a seu favor.