As tensões na fronteira entre Israel e o Líbano escalaram novamente nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025. Israel conduziu uma série de ataques aéreos em território libanês, em uma clara violação do acordo de cessar-fogo vigente desde novembro do ano passado. A ofensiva acontece a poucos dias do fim do prazo estipulado para o desarmamento do grupo Hezbollah na região sul do rio Litani.
Alvos e Alcance dos Ataques
Segundo comunicado das Forças de Defesa de Israel, os bombardeios tinham como alvo infraestruturas militares do Hezbollah. Entre os locais atingidos estavam armazéns de armas, pontos de lançamento de mísseis e um complexo militar usado para treinamento de combatentes. A Agência Nacional de Notícias do Líbano (NNA) informou que os ataques se estenderam por uma vasta área, do Monte Rihan, no sul, até a região de Hermel, no nordeste, próximo à fronteira com a Síria.
Imagens divulgadas mostraram colunas de fumaça subindo dos arredores da vila de al-Katrani, no sul do Líbano, após os impactos. A operação militar israelense representa mais um capítulo na série de violações mútuas do cessar-fogo, que tem sido alvo de acusações por ambos os lados desde sua implementação.
Contexto Diplomático e Pressão pelo Desarmamento
A ofensiva ocorre em um momento de delicada atividade diplomática. Nesta sexta-feira, 19 de dezembro, está marcada a segunda reunião do comitê que monitora o cumprimento do cessar-fogo, mediado pelos Estados Unidos. Este encontro terá uma característica inédita: pela primeira vez, contará com a participação de membros civis nomeados pelos governos de Israel e do Líbano. Até então, o grupo era composto apenas por representantes militares dos dois países, além de delegados dos EUA, da França e da força de paz da ONU.
O prazo para a implementação da primeira fase do acordo de trégua na fronteira continua "dentro do prazo estipulado", conforme declarou o comandante do Exército libanês, general Rodolph Haikal. Em agosto, o governo de Beirute orientou suas Forças Armadas a elaborar um plano para desarmar o Hezbollah na área ao sul do rio Litani até o final de 2025.
No entanto, persistem fortes dúvidas sobre a disposição do Hezbollah em aceitar o desarmamento, especialmente em um cenário de tensões renovadas e ataques recíprocos. A milícia iniciou seus ataques a Israel em solidariedade aos palestinos de Gaza, o que desencadeou uma resposta israelense devastadora no sul do Líbano.
Movimentações Internacionais e Apoio ao Líbano
Paralelamente aos ataques, o general Haikal encontrava-se em Paris para uma reunião com autoridades americanas, francesas e sauditas. O objetivo do encontro foi discutir formas de fortalecer a presença militar libanesa oficial na região fronteiriça, possivelmente como um contraponto ao poder do Hezbollah.
No X (antigo Twitter), o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas francesas, general Fabien Mandon, afirmou que os países buscam, juntos, "contribuir para a manutenção da estabilidade e da paz duradoura, respeitando a soberania do Líbano". O Ministério das Relações Exteriores da França anunciou que os participantes concordaram em realizar uma conferência de apoio às Forças Armadas libanesas em fevereiro.
O Líbano enfrenta uma crise multifacetada, abalado pelo transbordamento do conflito de Gaza, abrigando cerca de 1 milhão de refugiados sírios e palestinos, e lutando para superar uma grave crise econômica que se arrasta desde 2019. A estabilidade na fronteira sul é, portanto, um elemento crucial não apenas para a segurança regional, mas também para a frágil economia e estrutura social do país.
Os próximos dias serão decisivos. O cumprimento do prazo para o desarmamento, a reação do Hezbollah aos recentes bombardeios e os resultados da reunião do comitê de cessar-fogo definirão se o caminho será de uma paz negociada ou de uma nova escalada de violência em uma das fronteiras mais instáveis do Oriente Médio.