Hamas devolve corpo de refém a Israel; dois corpos ainda estão em Gaza
Hamas devolve corpo de refém; dois ainda estão em Gaza

O braço armado do Hamas, as Brigadas Al-Qassam, anunciou nesta terça-feira, 2 de dezembro de 2025, a devolução de um dos dois últimos corpos de reféns mantidos em Gaza. O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, confirmou o recebimento dos restos mortais, que foram encaminhados para análise forense.

Os últimos reféns e a tensão do cessar-fogo

Com essa movimentação, os únicos corpos de sequestrados que ainda não retornaram a Israel são os do policial israelense Ran Gvili e do cidadão tailandês Sudthisak Rinthalak. Ambos foram levados durante os ataques realizados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.

A repatriação de todos os reféns, vivos e mortos, é um dos pilares do frágil acordo de cessar-fogo que vigora entre Israel e o grupo palestino há quase dois meses. No entanto, o período tem sido marcado por acusações mútuas de violações dos termos estabelecidos.

O governo israelense critica a demora na entrega dos corpos, enquanto o Hamas argumenta que localizar os restos mortais nos escombros de Gaza, após dois anos de intensos conflitos, é uma operação complexa que demanda tempo e equipamentos adequados. Por outro lado, militantes palestinos denunciam ataques israelenses contínuos ao enclave desde o início do acordo.

O custo humano e o conflito mais mortal para jornalistas

O cenário em Gaza continua catastrófico. Desde o início do cessar-fogo, pelo menos 357 pessoas foram mortas no território palestino. Entre os israelenses, três soldados perderam a vida em ações dos militantes.

Este conflito se consolidou como o mais letal da história para profissionais da imprensa. De acordo com o Observatório Shireen Abu Akleh, quase 300 jornalistas foram mortos desde 7 de outubro de 2023, incluindo dez da emissora Al Jazeera.

Para se ter uma dimensão da tragédia, esse número supera o total combinado de vítimas entre jornalistas na Primeira e na Segunda Guerra Mundial (69), nas guerras do Vietnã, Camboja e Laos (71) e na invasão russa à Ucrânia, com 19 mortes registradas até agosto de 2025.

Gaza devastada e a crise econômica na Cisjordânia

A destruição em Gaza é de proporções monumentais. Um relatório recente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) revela que o volume de escombros é 12 vezes maior que o da Grande Pirâmide de Gizé. Estima-se que oito a cada dez edifícios existentes antes da guerra foram danificados ou totalmente destruídos.

A ofensiva israelense e as restrições estruturais mergulharam a população de mais de 2 milhões de palestinos em um estado de "empobrecimento extremo e multidimensional". A conta para a reconstrução do território pode ultrapassar a marca de US$ 70 bilhões.

O deslocamento humano é massivo: mais de 1,9 milhão de pessoas, ou 90% da população de Gaza, tiveram que fugir de suas casas. Em Israel, o número é de cerca de 100 mil deslocados.

Na Cisjordânia, a situação também se deteriora rapidamente. A economia local foi dizimada pela expansão acelerada de assentamentos israelenses, pela escalada da violência e por severas restrições à circulação. Entre 2023 e 2024, o PIB da região caiu 17%, e o PIB per capita retrocedeu quase 19%, voltando aos níveis de 2008 e 2014.

Paralelamente, Israel reteve US$ 1,76 bilhão em repasses fiscais desde 2019, um valor equivalente a 12,8% do PIB palestino em 2024, o que destruiu a capacidade da Autoridade Palestina de pagar salários e manter serviços básicos.