As negociações para pôr fim à guerra entre Rússia e Ucrânia avançaram significativamente nas últimas semanas e estão agora descritas por Washington e Moscou como na sua "fase final". O otimismo, no entanto, esbarra em questões estruturais ainda não resolvidas, como o status territorial, o futuro da usina nuclear de Zaporizhzhia e a natureza das garantias de segurança para Kiev.
Garantias de segurança: 15 anos em vez de 50
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, confirmou ter aceitado discutir um plano de paz baseado em uma proposta americana de 20 pontos. Este plano inclui garantias de segurança dos Estados Unidos à Ucrânia por um período de 15 anos. Zelensky revelou, porém, que seu pedido inicial era por compromissos de segurança muito mais longos, de até 50 anos.
O argumento do líder ucraniano se baseia na avaliação de que o conflito atual, iniciado com a invasão em larga escala em 2022, é uma continuação da guerra que começou em 2014, com a anexação da Crimeia e o início dos combates no leste do país.
O presidente dos EUA, Donald Trump, que recebeu Zelensky em Mar-a-Lago, na Flórida, afirmou que o acordo de paz estaria "95% pronto". Ele admitiu, contudo, que a resolução de "uma ou duas questões muito difíceis" ainda é necessária para um desfecho final.
Os grandes impasses: tropas, território e a usina nuclear
Um dos pontos mais sensíveis nas tratativas é a possível presença de tropas estrangeiras em solo ucraniano após um cessar-fogo. Zelensky defende que forças internacionais são uma parte essencial do esquema de segurança para dissuadir uma nova agressão russa.
Países europeus como França, Reino Unido e Alemanha já sinalizaram disposição para liderar uma força multinacional, com apoio logístico americano. A Rússia, porém, rejeita veementemente essa possibilidade. O chanceler russo, Serguei Lavrov, alertou que qualquer contingente militar europeu na Ucrânia seria tratado como alvo legítimo pelas forças russas, o que poderia reacender os combates mesmo após um acordo formal.
O impasse territorial segue sendo o principal obstáculo. Moscou controla cerca de 75% da região de Donetsk e praticamente toda a vizinha Luhansk, no leste ucraniano. O Kremlin exige que Kiev retire suas tropas das áreas do Donbas que ainda controla como condição para a paz. Zelensky rejeita a proposta, insistindo que qualquer solução deve respeitar a legislação ucraniana e a vontade da população local. Trump reconheceu a complexidade do tema e admitiu que ainda não há consenso sobre a criação de uma zona desmilitarizada na região.
Outro ponto crítico é o destino da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, ocupada pela Rússia desde março de 2022. Embora a comunidade internacional a reconheça como parte da Ucrânia, Moscou afirma que a usina agora pertence à Rússia e é operada pela estatal Rosatom.
Trump declarou que o presidente russo, Vladimir Putin, estaria disposto a cooperar para reativar a usina, que atualmente não gera energia. O plano americano prevê uma gestão conjunta entre EUA, Rússia e Ucrânia, mas Kiev resiste à ideia de dividir o controle com Moscou.
Próximos passos e a realidade no terreno
Diante dos desafios, Zelensky propôs que Kiev sedia uma reunião nos próximos dias entre representantes da Ucrânia, dos EUA e da Europa. O objetivo é consolidar uma posição comum do lado ocidental antes de qualquer diálogo direto com a Rússia. Um eventual encontro face a face entre Zelensky e Putin só ocorreria após esse alinhamento.
Enquanto a diplomacia trabalha, os combates continuam no front. A Rússia afirma ter conquistado novas posições no leste da Ucrânia, reforçando a percepção de que Moscou negocia a partir de uma posição militarmente favorável.
O contraste entre o discurso de proximidade da paz e a persistência de disputas centrais indica que, embora o fim da guerra possa estar mais próximo do que em anos anteriores, um acordo final ainda é delicado. Qualquer solução tende a ser frágil e politicamente custosa para todos os envolvidos, com o risco de uma paz instável se os impasses fundamentais não forem genuinamente superados.