Dois anos de guerra: Catar e Egito pedem retirada de tropas de Gaza
Catar e Egito pedem retirada de tropas israelenses de Gaza

Neste sábado, 6 de outubro, o Catar e o Egito, principais mediadores no conflito entre Israel e o Hamas, fizeram um apelo conjunto pela retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e pelo envio imediato de uma força internacional para supervisionar integralmente o acordo de cessar-fogo. O pedido foi realizado durante o Fórum de Doha, dois anos após o início dos combates mais intensos na região.

O Plano de Paz e a Posição do Hamas

O acordo de trégua, que entrou em vigor em 10 de outubro, foi intermediado por Catar, Egito e Estados Unidos. Sua segunda fase, ainda não iniciada, prevê não apenas a retirada militar israelense, mas também a criação de uma autoridade interina palestina e o desdobramento de uma Força Internacional de Estabilização (ISF). Um ponto crucial do plano, elaborado inicialmente por Washington, é o desarmamento do Hamas.

Em uma declaração significativa, o grupo militante palestino se disse disposto a entregar suas armas, mas sob uma condição específica. Khalil al Hayya, chefe negociador do Hamas em Gaza, afirmou que as armas do grupo "estão vinculadas à existência da ocupação e da agressão". Ele acrescentou: "Se a ocupação terminar, essas armas serão colocadas sob a autoridade do Estado [palestino]".

Apelos Urgentes dos Mediadores

Os líderes dos países mediadores foram enfáticos sobre a necessidade de ação imediata. O primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman al Thani, alertou: "Estamos em um momento crítico. Não se pode completar uma trégua a menos que haja uma retirada total das forças israelenses e seja restabelecida a estabilidade em Gaza".

O ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, foi ainda mais direto ao justificar a necessidade da força internacional: "Precisamos enviar esta força o mais rápido possível para o terreno, porque uma das partes, Israel, viola diariamente o cessar-fogo". Ele propôs que a força atue ao longo da "linha amarela" para verificar e supervisionar o acordo.

Desafios e Relutância na Formação da Força

Apesar da urgência, a formação da força de estabilização enfrenta obstáculos. Países árabes e muçulmanos têm mostrado relutância em participar, temendo confrontos diretos com milicianos palestinos. O chanceler turco, Hakan Fidan, presente no fórum, confirmou que as negociações continuam, mas questões como a estrutura de comando e a origem dos efetivos ainda estão em aberto.

Fidan defendeu que o objetivo principal da força "deveria ser separar os palestinos dos israelenses", e só depois abordar outras questões pendentes. Ele também divergiu da prioridade do desarmamento, argumentando: "O desarmamento não pode ser a primeira coisa a ser feita no processo. Precisamos colocar as coisas em ordem, precisamos ser realistas".

A posição da Turquia, que demonstrou interesse em integrar a força, é vista com desconfiança por Israel, que considera o governo turco próximo demais do Hamas. Enquanto isso, Al Thani afirmou que os garantidores da trégua – Catar, Turquia, Egito e EUA – estão trabalhando juntos para impulsionar a próxima fase do acordo.

O cenário permanece tenso e complexo, com a população de Gaza pagando um alto preço. Dados recentes indicam que o território registrou cerca de 6 mil amputações em decorrência da guerra, um trágico reflexo da violência que a comunidade internacional agora tenta, mais uma vez, conter através da diplomacia e de um frágil acordo de paz.