O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma das mais sérias crises políticas no Congresso Nacional desde o início de seu mandato. Os presidentes das duas Casas legislativas romperam simultaneamente suas relações institucionais com importantes líderes da base governista, em movimentos que ameaçam a capacidade de articulação do Palácio do Planalto no Parlamento.
Rompimento na Câmara dos Deputados
Na Câmara dos Deputados, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) decidiu cortar completamente a relação institucional com o líder do PT na Casa, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). A decisão foi tomada na segunda-feira, dia 24 de novembro de 2025, após um acumulado de frustrações do presidente da Câmara com as duras críticas que vinha recebendo do petista.
As críticas de Lindbergh Farias ocorriam tanto nas redes sociais quanto durante as reuniões da Câmara, criando um clima de tensão insustentável para a condução dos trabalhos legislativos. Um interlocutor próximo de Hugo Motta revelou que um dos principais fatores para o rompimento foi o fato de Lindbergh ter chamado o presidente da Câmara de "bandido ou cúmplice de bandido".
O mesmo interlocutor deixou claro que a decisão de Motta visa pressionar o PT a mudar sua liderança na Casa, afirmando: "Se o líder do PT escolhe ter o presidente da Câmara como inimigo, é um problema que o PT tem que resolver".
Crise no Senado Federal
Paralelamente, no Senado Federal, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) rompeu relações com o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA). Diferentemente do ocorrido na Câmara, o motivo desse rompimento não foi uma questão pessoal entre os dois, mas sim a decisão do presidente Lula de indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
A escolha de Messias desagradou profundamente a Alcolumbre porque ignorou o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que é um grande aliado do presidente do Senado. Pacheco é considerado por Lula como uma importante figura da política nacional e é desejado pelo presidente como seu representante na disputa do governo de Minas Gerais em 2026.
Consequências para o governo
As consequências desses rompimentos são graves e imediatas para o governo Lula. Na Câmara, a situação deve complicar não apenas o relacionamento do PT com Hugo Motta, mas também a atuação do próprio governo na Casa, visto que Lindbergh Farias é um dos principais articuladores governistas.
Um rompimento institucional significa que o presidente de uma das Casas não conversará mais com tais líderes, não acolherá suas demandas e não negociará mudanças em votações importantes para o governo. Isso representa um obstáculo significativo para a aprovação de projetos de interesse do Executivo.
No Senado, a situação é considerada ainda mais grave porque o rompimento ocorreu com o próprio líder do governo, e não apenas com o líder do PT. Isso demonstra que a crise atingiu o núcleo duro da articulação política do governo no Congresso Nacional.
As tensões vinham se acumulando há semanas, conforme revelado por interlocutores próximos aos presidentes das Casas. Já havia relatos de insatisfação de Hugo Motta não apenas com Lindbergh Farias, mas também com a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.
O desfecho dessa crise política ainda é incerto, mas especialistas apontam que o governo terá que buscar urgentemente novas estratégias de articulação ou rever suas posições para recompor as relações com o Congresso, essenciais para a governabilidade nos próximos anos.