Prisão de Bolsonaro: protestos nas ruas fracassam e se limitam às redes
Manifestações contra prisão de Bolsonaro fracassam

As expectativas de grandes manifestações de rua em apoio a Jair Bolsonaro após sua prisão não se concretizaram. O primeiro teste de mobilização popular depois que o ex-presidente foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, no sábado, 22 de novembro de 2025, revelou uma desconexão entre o ativismo digital e a presença física nas ruas.

O fracasso das mobilizações nas ruas

Os apoiadores de Bolsonaro haviam convocado vigílias desde o fim do julgamento no STF, com rumores até de um possível protesto de caminhoneiros que poderia paralisar o país. No entanto, quando o ex-presidente teve sua prisão preventiva convertida em definitiva dois dias depois, as ruas permaneceram praticamente vazias.

Em São Paulo, ambos os lados do espectro político marcaram manifestações na Avenida Paulista. Os esquerdistas levaram um boneco inflável de Bolsonaro caracterizado como presidiário e organizaram uma roda de samba, mas atraíram apenas uns poucos pedestres. Do outro lado, os apoiadores do capitão também fracassaram: inflaram um boneco de Lula como presidiário, mas reuniram apenas uns poucos gatos pingados.

Em Brasília, a situação não foi diferente. Um grupo de aproximadamente quarenta apoiadores chegou a se concentrar em frente à Superintendência da Polícia Federal, mas rapidamente se dispersou sem conseguir manter uma presença significativa.

O embate digital e o impacto do vídeo da tornozeleira

O verdadeiro campo de batalha após a prisão de Bolsonaro se revelou ser o universo digital, onde a direita tradicionalmente mantém supremacia. No entanto, até mesmo neste ambiente os resultados ficaram abaixo do esperado.

Um levantamento realizado pelo Instituto Democracia em Xeque mostrou que a prisão do ex-presidente gerou 3,3 milhões de postagens nas principais redes sociais. Os engajamentos foram praticamente divididos entre direita e esquerda, com uma ligeira vantagem para as publicações favoráveis a Bolsonaro.

Segundo especialistas, esse equilíbrio foi alcançado após a divulgação das imagens que mostravam a tentativa do ex-presidente de violar a tornozeleira eletrônica. O pesquisador Alexsander Chiodi, coordenador do estudo, explica que "depois do vídeo, a direita não conseguiu sustentar a narrativa de martírio do ex-presidente".

O episódio da tornozeleira gerou impressionantes 11,9 milhões de interações nas redes sociais e silenciou setores institucionais e moderados do bolsonarismo, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

As razões por trás do desânimo dos apoiadores

Para Beto Vasques, diretor do Instituto Democracia em Xeque, o vídeo dividiu até mesmo os apoiadores mais fiéis, que ficaram "divididos entre enfatizar a fragilidade física e psíquica do ex-presidente e minimizar a violação da tornozeleira".

A empresa de tecnologia Palver, que monitora mais de 100.000 grupos de WhatsApp e Telegram, confirmou essa mudança no humor da militância. No dia da prisão, o volume de mensagens favoráveis ao ex-presidente era duas vezes maior que as contrárias, mas a divulgação do vídeo inverteu completamente essa situação.

Luis Fakhouri, proprietário da Palver, destacou que "mobilizar as ruas exige articulação, preparo e coesão. Ficou evidente o desânimo de uma parcela do eleitorado com o que aconteceu".

O mestre em ciências políticas da Unesp Alberto Aggio acrescenta que as manifestações em defesa de Bolsonaro começaram a perder vigor depois do primeiro decreto de prisão, em agosto passado, e com a percepção de que o Judiciário não recuaria e o Congresso dificilmente aprovaria um projeto de anistia.

Aggio ressalta que "há uma certa desorientação da base aliada do ex-presidente. Não é por acaso que as manifestações em defesa dele têm se limitado às redes sociais".

O contraste entre a popularidade digital e a capacidade de mobilização real marca uma virada significativa para o bolsonarismo. Enquanto em 2018 Bolsonaro demonstrou que seu apelo online tinha correspondência no mundo real, o primeiro teste pós-prisão mostrou que muito dessa equivalência se esvaiu após a condenação.