CPMI do INSS: Operação Sem Desconto expõe esquema de R$ 6 bilhões
CPMI do INSS revela esquema bilionário e atinge governo

A CPMI do INSS, inicialmente vista com ceticismo como mais uma manobra política em Brasília, transformou-se em um dos maiores focos de investigação do ano. O que começou como uma comissão parlamentar rotineira ganhou proporções alarmantes com a deflagração da Operação Sem Destenho pela Polícia Federal.

O estrago bilionário da Operação Sem Desconto

A operação conjunta da PF com a Controladoria-Geral da União e o Tribunal de Contas da União revelou um esquema estimado em R$ 6 bilhões em desvios entre 2019 e 2024. O mecanismo criminoso consistia em aplicar descontos associativos não autorizados em benefícios previdenciários, especialmente nos rurais, aproveitando-se da fragilidade dos controles do INSS.

Entre os presos na operação está Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS nomeado no governo Lula e indicado pelo PDT, partido do ministro Carlos Lupi da Previdência. As evidências contra Stefanutto são descritas por especialistas como "altamente comprometedoras" se confirmadas.

O editor José Benedito da Silva, que inicialmente via a CPMI com desconfiança, reconhece a mudança de cenário: "Bem ou mal, aos trancos e barrancos, com muitos solavancos, a CPMI começou a bater em coisas muito importantes".

As três frentes que ameaçam o governo Lula

O Planalto enfrenta pelo menos três situações delicadas decorrentes das investigações:

Alessandro Stefanutto representa o primeiro ponto de tensão. Sua prisão e as acusações de envolvimento no esquema colocam em xeque indicações políticas feitas por partidos da base aliada.

Outro front sensível envolve um sindicato ligado ao irmão do presidente Lula, onde ele atua como diretor. A entidade aparece nas investigações relacionadas ao esquema de descontos indevidos, e especialistas alertam que a apuração pode avançar para outras figuras próximas ao governo.

O terceiro ponto de preocupação é a atuação da Advocacia-Geral da União sob Jorge Messias. A CPMI investiga se houve negligência do órgão ao lidar com denúncias contra a Conafer, uma das principais entidades sob suspeita no esquema.

O potencial explosivo da investigação

O presidente da CPMI, senador Carlos Viana, já indicou que pelo menos 20 políticos estariam na mira das investigações, abrangendo diferentes partidos e níveis de atuação. Alguns nomes já surgiram em depoimentos e relatórios sigilosos, enquanto outros podem emergir conforme a comissão for "puxando o novelo".

José Benedito da Silva sintetiza o risco político: "Se a CPMI puxar esse fio com força e começarem a aparecer peixes de todos os tamanhos, de todas as colorações, isso ainda vai muito longe. E é isso que se espera".

O que inicialmente parecia um "golpe de varejo" contra aposentados revelou-se uma estrutura complexa de corrupção com indícios de conluio com servidores públicos, incluindo a alta cúpula do INSS. A PF identificou pagamento de propina e "mesadas" para que entidades tivessem acesso privilegiado aos sistemas da previdência.

Apesar do inevitável espetáculo político em ano pré-eleitoral, com deputados e senadores em busca de holofote, a CPMI do INSS já demonstrou resultados concretos: derrubou um presidente do INSS, atingiu estruturas ligadas ao entorno de Lula e sinaliza que pode atravessar 2025 como uma dor de cabeça constante para o governo e boa parte da classe política.