Ruptura no Congresso marca nova fase nas relações com o Planalto
O anúncio público do presidente da Câmara, Hugo Motta, de que não manteria mais qualquer tipo de relação com o líder do governo, deputado Lindbergh Farias, representa muito mais do que um simples desentendimento político. Este episódio, ocorrido em novembro de 2025, configura uma mudança significativa no relacionamento entre o Executivo e o Legislativo.
Segundo análise do jornalista Matheus Leitão, premiado com os prêmios Esso e Vladimir Herzog, o Congresso costuma ler o tempo político antes do Executivo. A declaração de Motta - "não tenho mais interesse em ter nenhum tipo de relação com o deputado" - funciona como um marco na deterioração das relações que vinha se desenvolvendo há semanas.
O acúmulo de tensões que levou ao rompimento
O conflito entre Motta e Lindbergh não surgiu do nada. Desconfiança mútua e ruídos nas negociações foram se acumulando gradualmente. Entre os pontos de atrito estavam reclamações internas sobre a condução do PL Antifacção e irritação com episódios menores que, somados, criaram o ambiente perfeito para a crise explodir.
Enquanto o Planalto comemorava indicadores positivos como a queda da inflação e o avanço da popularidade presidencial, o ambiente político no Congresso tomava rumo diferente. A relação de Lula com o Legislativo, que já enfrentava tensões difusas, entrou definitivamente em um período de fricções abertas.
Consequências imediatas para o governo
A ruptura tem impacto direto na capacidade de articulação do governo. Jaques Wagner continua isolado entre os senadores, enquanto Lindbergh tenta reorganizar sua atuação sem acesso direto ao presidente da Câmara. Esta situação empurra o Executivo para uma zona de instabilidade política precisamente quando cada votação exigirá precisão milimétrica.
No Senado, o ambiente também preocupa o Planalto. A escolha de Jorge Messias para o Supremo contrariou a preferência de Davi Alcolumbre, cristalizando um mal-estar que afastou o presidente do Senado do governo no momento em que Lula mais precisava de aproximação.
O que esta crise antecipa para 2026
A preocupação central do governo não deve estar na dimensão específica desta briga, mas no que ela representa para o futuro. Com a aproximação do calendário eleitoral de 2026, rupturas como essa tendem a se multiplicar, já que as decisões passarão a ser ditadas mais pela dinâmica eleitoral do que por acordos partidários.
O Congresso demonstrou mais uma vez sua capacidade de ler o tempo político antes do Executivo. Quando dois presidentes de Casa agem em sentido único, mesmo que por razões distintas, o governo deveria considerar que o sinal não é lateral, mas central.
Apesar do cenário desafiador, o Planalto ainda possui capital político para reorganizar o tabuleiro. A relação com o Congresso entra agora em uma fase onde os símbolos valem tanto quanto as votações. E o símbolo da última semana foi tudo, menos pequeno.