Cena política no DF se transforma com entrada de Bia Kicis
O cenário político do Distrito Federal passou por uma significativa transformação no final de outubro de 2025, quando a deputada Bia Kicis (PL-DF) oficializou sua candidatura ao Senado Federal. O evento, que reuniu mais de mil pessoas em um clube da capital, contou com presenças ilustres que indicam os rumos da estratégia política bolsonarista.
Palanque revela ambições nacionais
O que parecia ser um simples ato de campanha revelou-se muito mais significativo. A presença de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no palanque indicava um projeto de maior alcance. Michelle não apenas compareceu, como se declarou empenhada em trabalhar pela eleição da aliada.
Até então, a expectativa era de uma dobradinha entre Michelle Bolsonaro e o governador Ibaneis Rocha (MDB) disputando as duas cadeiras do DF no Senado. A entrada de Bia Kicis na corrida modificou completamente esse cenário, deixando o governador visivelmente irritado com a mudança de planos.
Estratégia para 2026 toma forma
A movimentação é entendida por analistas políticos como parte de uma estratégia mais ampla do PL para garantir uma vaga no Senado, onde os bolsonaristas trabalham para formar maioria a partir de 2027. O contexto ganha importância adicional com a possibilidade de Michelle Bolsonaro ingressar numa chapa presidencial em 2026.
Com o ex-presidente Jair Bolsonaro condenado e enfrentando ameaça de prisão, Michelle surge como uma das opções naturais para sucedê-lo politicamente. Líderes do Centrão consideram imbatível uma chapa formada por ela e um governador de centro-direita, preferencialmente com Tarcísio de Freitas na liderança.
A candidatura de Bia Kicis também cumpre outro objetivo: afastar Ibaneis Rocha, que enfrenta resistência da militância bolsonarista e de uma ala relevante do partido. O governador, que aparece em segundo lugar nas pesquisas - atrás apenas de Michelle Bolsonaro - manifestou insatisfação junto à direção do PL.
Disputa acirrada e posicionamento firme
Bia Kicis, por sua vez, rejeita ser vista como candidata provisória. Em declaração à VEJA, a deputada afirmou: "Lancei a minha pré-candidatura com o apoio da Michelle, do Bolsonaro e do meu partido. Sou candidata em qualquer circunstância". Ela demonstra confiança na possibilidade de vitória conjunta com a ex-primeira-dama, caso ambas disputem as eleições.
Aliada histórica da família Bolsonaro, Bia Kicis tem entre suas bandeiras a pressão pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes - posição que contrasta com a do governador Ibaneis Rocha, que rechaça essa possibilidade. Essa diferença ideológica explica parte da resistência ao nome do governador entre setores mais radicais do bolsonarismo.
Caso Banco Master afeta cenário político
A situação complicou-se ainda mais com a operação da Polícia Federal envolvendo uma negociação considerada suspeita do Banco Master. Ibaneis Rocha foi o principal articulador da aquisição do Master pelo Banco de Brasília, proposta posteriormente barrada pelo Banco Central e encaminhada à PF.
Segundo as investigações, o BRB comprou 12 bilhões de reais em carteiras de crédito por "pura camaradagem" e como maneira de mascarar a situação financeira complicada da entidade comandada por Daniel Vorcaro. O que seria uma vitrine de gestão transformou-se em grande dor de cabeça para o governador.
Opositores passaram a cobrar a criação de uma CPI para apurar fraudes e até mesmo a renúncia ou afastamento judicial da cúpula do governo do DF. O tiroteio político inclui a vice-governadora Celina Leão (PP), candidata ao governo em 2026.
Reflexos na sucessão do Buriti
Enquanto a candidatura de Ibaneis Rocha ao Senado sofre abalos, a campanha de Celina Leão tenta manter-se ilesa. Ela é aliada de primeira hora de Michelle Bolsonaro, ganhou o apelido de "candidata da Michelle" e forçou a saída do PL do ex-governador José Roberto Arruda, que também pretende disputar as eleições.
Atualmente, Celina Leão e José Roberto Arruda aparecem empatados nas pesquisas de opinião para o governo do DF, indicando que a sucessão no Palácio do Buriti promete ser tão acirrada quanto a disputa pelo Senado.
O cenário político brasiliense, portanto, transforma-se em microcosmo das estratégias nacionais bolsonaristas, com Bia Kicis atuando como peça fundamental num tabuleiro que se estende muito além das fronteiras do Distrito Federal.