O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou durante o Fórum de Investimentos 2026 que a demora da inflação para convergir à meta é incômoda para a autoridade monetária, mas o gradualismo adotado tem sido fundamental para afastar o risco de recessão da economia brasileira.
Cenário econômico contraintuitivo
Galípolo destacou que, no início de 2025, dois riscos principais preocupavam o BC: a dificuldade de convergência da inflação para a meta e o receio de que as ações do banco poderiam causar um declínio mais acentuado da atividade econômica. Passados dez meses, o cenário mostra evolução positiva em ambas as frentes.
O ceticismo em relação ao controle inflacionário diminuiu consideravelmente, enquanto a atividade econômica continua demonstrando resiliência. "O aspecto lento e gradual é bastante incômodo para o BC, mas por outro lado esse gradualismo colabora para diminuir o outro risco", explicou Galípolo durante evento promovido pela Bradesco Asset em São Paulo.
Indicadores econômicos em movimento
Os dados recentes comprovam a análise do presidente do BC. A expectativa do mercado financeiro para a inflação de 2025 atingiu seu pico no início de março, quando investidores projetavam alta de 5,68% nos preços. Desde então, a previsão caiu para 4,55%, segundo o Boletim Focus desta semana.
Esse percentual está apenas 0,05 ponto percentual acima do teto da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central, que é de 4,5%. Em paralelo, o desemprego registrou sua menor marca da série histórica neste ano, ficando em 5,6% no trimestre móvel encerrado em setembro, conforme dados do IBGE.
Juros reais elevados e atividade resiliente
Um dos aspectos mais surpreendentes do cenário atual, segundo Galípolo, são os juros reais bastante elevados no Brasil em comparação com outros países, enquanto a atividade econômica mantém seu vigor. Atualmente, a Selic encontra-se em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas.
"Por diversas métricas o mercado segue aquecido com crescimento a taxas menores", observou o presidente do Banco Central. "É algo bastante contraintuitivo para o que é o treinamento em política monetária", concluiu, referindo-se ao comportamento atípico da economia.
Além do desemprego em baixa, Galípolo chamou atenção para a inflação particularmente resiliente no setor de serviços e para a expansão do mercado de crédito. Esses fatores contribuem para o cenário complexo que o BC precisa administrar.
Visão de longo prazo e produtividade
Analisando um horizonte temporal mais amplo, o presidente do BC avalia que o crescimento da economia brasileira tem sido produto, em grande parte, do aumento da força de trabalho, mas alerta que "isso tem um limite".
Segundo Galípolo, "o crescimento sustentável ao longo do tempo vai depender de ganhos de produtividade, e vemos uma contribuição baixa da produtividade para o crescimento". Esta avaliação aponta para a necessidade de reformas estruturais que possam impulsionar a eficiência da economia nacional.
Comunicação do Banco Central
Sobre a ata publicada pelo Banco Central nesta semana, referente à última deliberação sobre a Selic, Galípolo foi enfático ao afirmar que "o banco central não está dando sinais sobre qualquer tipo de movimentação futura, sobre o que ele pode ou não fazer".
O presidente reconhece que é normal que agentes do mercado financeiro tentem encontrar sinalizações da autoridade monetária em tudo que ela produz, mas ressalta que o BC está apenas descrevendo o panorama factual da economia.
"Estamos sendo dependentes de dados para tomar decisões", finalizou Galípolo, reafirmando o compromisso do Banco Central com uma abordagem técnica e baseada em evidências para a condução da política monetária.