
O que deveria ser uma simples transmissão na internet se transformou num episódio lamentável de racismo escancarado. A delegada Tatiane Nascimento, mulher negra e servidora da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, estava participando de uma live quando um espectador decidiu cruzar todas as linhas do respeito.
E não foi sutil. Longe disso. O comentário veio como um soco no estômago: "Tá mais para ser empregada doméstica". Sim, essa pérola de ignorância foi digitada com todas as letras, mostrando como o racismo estrutural ainda pulsa forte em certos cantos da sociedade.
O contexto que não justifica, mas explica
A live rolava numa página de policiais militares da reserva — coisa de colegas de farda, teoricamente. Tatiane conversava normalmente quando a mensagem apareceu. Você imagina: uma delegada, formada, concursada, exercendo função de autoridade, e vem um cidadão reduzir toda sua trajetória a um estereótipo racista secular.
É de cair o queixo. Ou melhor, é de ferver o sangue mesmo.
A reação que veio com endereço
Aqui que a coisa fica interessante — no sentido de justiça sendo feita, claro. A delegada não deixou barato. Mulher experiente, ela sabe como as coisas funcionam. Imediatamente acionou a Delegacia de Pronto-Atendimento (DPA) do bairro Guanandi, aqui em Campo Grande.
E olha só como o mundo dá voltas: o autor do comentário infeliz já foi identificado. A Polícia Civil confirmou que sabe quem é o indivíduo, e agora o caso está sendo investigado como injúria racial. O crime, diga-se de passagem, não é bagatela — pode render de 1 a 3 anos de cadeia, além de multa.
Parece pouco? Experimenta cometer e descobre.
O que diz a lei — e a sociedade
A injúria racial está prevista no artigo 140, §3º do Código Penal, e se caracteriza quando alguém ofende a honra de outra pessoa usando elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Diferente do racismo — que é crime inafiançável e imprescritível — a injúria racial é afiançável e prescreve.
Mas calma, não pense que é moleza. A Justiça tem sido cada vez mais rigorosa com esses casos, especialmente quando as provas são tão claras quanto nesse — afinal, a live ficou gravada, o comentário está lá, registrado para a posteridade.
Que sirva de lição — ou melhor, de exemplo de que algumas "brincadeiras" têm consequências sérias. O anonimato da internet é ilusório, especialmente quando se mexe com quem conhece o caminho das delegacias por dentro.
Enquanto isso, Tatiane segue trabalhando — agora com um processo nas costas, mas também com a certeza de que não se cala diante do preconceito. E que todas as Tatianes por aí se inspirem: lugar de mulher negra é onde ela quiser — inclusive, e principalmente, atrás de uma carteira de delegada.