A decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), de marcar uma acareação envolvendo o Banco Master gerou reação imediata nos corredores do mercado financeiro. O movimento, que inclui também o ex-presidente do BRB e representantes do Banco Central, ocorre em meio à prisão do dono do banco, Daniel Vorcaro, pela Polícia Federal, e levanta questionamentos sobre seus reais impactos.
Leitura do mercado: mais ruído do que mudança jurídica
Analistas e investidores na Faria Lima avaliam que a medida, anunciada em 26 de dezembro de 2025, não altera o cerne do problema, mas adiciona uma camada de incerteza. A avaliação predominante é de que os riscos permanecem mais no campo político e judicial, sem mudanças regulatórias imediatas para o sistema.
Para Fabio Louzada, economista e fundador da FBNF – Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças, o caso transcende a esfera jurídica. “A leitura é que a acareação adiciona ruído, alonga o noticiário negativo e aumenta a sensação de insegurança”, afirma. Ele ressalta que, de qualquer forma, o dano reputacional já está precificado pelo mercado.
Consequências práticas: risco, governança e exclusão de carteiras
A exposição prolongada do caso na mídia amplia a percepção de fragilidade institucional, um fator crucial na análise de risco dos investidores. Episódios dessa natureza costumam levar a dois desdobramentos principais:
- Aumento do prêmio de risco exigido para ativos relacionados.
- Exclusão pura e simples do ativo das carteiras de investimento, especialmente quando há questões sobre governança corporativa.
Louzada vai além e define o Banco Master como um símbolo de uma lição mal aprendida. “Para o investidor, especialmente o de renda fixa, o episódio reforça uma lição antiga... O retorno elevado quase sempre é reflexo direto de risco elevado”, explica. A acareação, ao evidenciar divergências entre as versões dos executivos, reguladores e outros envolvidos, tende a aprofundar essa visão negativa.
Impactos imediatos e mudanças de comportamento no longo prazo
No curto prazo, a orientação no mercado é de cautela máxima. Investidores protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) têm a expectativa de ressarcimento, mas enfrentam o período de espera e a incerteza até a devolução dos valores.
Olhando para o futuro, o economista acredita que o episódio pode alterar estruturalmente o comportamento do investidor brasileiro. “A busca cega por CDBs e produtos de bancos pequenos com taxas muito acima da média tende a diminuir”, prevê Louzada.
Nesse novo cenário, devem ganhar mais peso:
- A exigência por maior transparência.
- A análise de balanços mais claros.
- O histórico consistente de governança das instituições.
Essa mudança de postura pode significar abrir mão de alguns pontos percentuais de rentabilidade em troca de segurança. Para as instituições financeiras, o mercado deve ficar mais seletivo na captação de recursos (funding), o que pode encarecer o crédito para aquelas que não conseguirem demonstrar solidez de forma convincente.