Corinthians: R$ 98 mi da Copa do Brasil serão consumidos por dívidas
Corinthians usará prêmio de R$ 98 mi para pagar dívidas

O Corinthians conquistou seu quarto título da Copa do Brasil e, com ele, uma premiação milionária de aproximadamente R$ 98 milhões. No entanto, a celebração da torcida contrasta com a realidade financeira do clube: a maior parte desse valor já tem destino certo, o pagamento de dívidas.

Protestos e a dívida bilionária

Um levantamento junto a cartórios de todo o país revelou uma situação alarmante. Até a primeira quinzena de dezembro, foram localizados mais de R$ 57 milhões em 36 protestos contra o Timão. Essa é apenas a ponta do iceberg de um problema estrutural.

De acordo com os balanços mais recentes dos clubes brasileiros, o Corinthians lidera o ranking de endividamento, com um passivo total que beira os R$ 2,7 bilhões. Procurado para comentar a situação, o clube não se manifestou.

O principal credor nos cartórios é a Fazenda Nacional, responsável por 99% do valor protestado. Em setembro, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional registrou uma certidão de dívida ativa de R$ 39 milhões referente a débitos com a União. Em novembro, outros dez protestos somaram R$ 17 milhões, relacionados à falta de retenção de tributos federais.

A lista de credores inclui ainda uma empresa de coleta de lixo (R$ 35 mil), uma de medicina diagnóstica (R$ 13 mil), além de companhias de comunicação, embalagens e bancos. O menor protesto, de apenas R$ 145, foi feito pelo Governo de São Paulo por uma taxa judiciária não quitada.

Raízes da crise e o peso da Arena

Especialistas apontam que a origem do buraco financeiro está intimamente ligada à construção da Neo Química Arena, finalizada em 2014 a um custo de cerca de R$ 1 bilhão. Mais de uma década depois, a dívida com a Caixa Econômica Federal, referente ao estádio, ainda gira em torno de R$ 700 milhões.

"Nesse período, os juros bancários cresceram muito no Brasil. Hoje estamos falando em 15% do CDI. Então, o dinheiro que o clube faz de bilheteria vai todo para o fundo destinado ao pagamento do estádio", explicou Amir Somoggi, diretor da consultoria Sports Value.

O economista César Grafietti, sócio da Convocados, destaca que, mesmo excluindo os custos da arena, a dívida restante de R$ 1,9 bilhão cresce consistentemente desde 2014. Cerca de R$ 1 bilhão desse montante corresponde a salários atrasados, encargos trabalhistas e parcelamentos fiscais.

"São valores que foram crescendo ao longo do tempo de forma premeditada: contrata-se o que não se pode pagar, a um custo de pelo menos 15% ao ano em juros. Ou seja, o problema foi criado pelo clube, em diversos mandatos", afirmou Grafietti.

Consequências graves e um futuro incerto

A dívida total do clube representa cerca de 2,5 vezes a sua receita anualizada. O reflexo imediato é a incapacidade de honrar despesas correntes e compromissos renegociados, criando um efeito bola de neve.

"Quando você pensa que o clube tem que decidir o que ele vai pagar e o que não vai pagar, ele decide pagar o salário do jogador, mas não o fornecedor. E o fornecedor é quem garante a operação do clube no dia a dia", analisou Amir Somoggi.

Essa gestão de crise já tem impactos diretos no futebol. Por inadimplência no pagamento de cerca de R$ 40 milhões ao Santos Laguna, do México, pela contratação do zagueiro Félix Torres, o Corinthians foi punido pela FIFA com um 'transfer ban', impedido de registrar novas contratações.

Para 2025, a projeção é de um prejuízo na casa dos R$ 270 milhões. Diante desse cenário, a solução apontada por especialistas pode ser a transformação em uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF).

"Se o time não reduzir os custos de forma drástica e equilibrar suas finanças, a tendência será de só a SAF salvar o clube", concluiu Somoggi. Enquanto isso, a diretoria tenta equacionar obrigações de curto prazo para tentar respirar em 2026, em meio a uma avalanche financeira de consequências imprevisíveis.