O endividamento do setor público brasileiro atingiu um novo patamar preocupante em novembro, retornando aos níveis observados durante o período mais crítico da pandemia. Os dados mais recentes do Banco Central revelam uma trajetória ascendente tanto para a dívida bruta quanto para o déficit das contas públicas.
Dívida Bruta atinge marca simbólica de R$ 10 trilhões
De acordo com as estatísticas fiscais divulgadas pelo Banco Central na terça-feira, 30 de dezembro de 2025, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) alcançou a cifra de R$ 10 trilhões. Em relação ao tamanho da economia, esse valor equivale a 79% do Produto Interno Bruto (PIB).
Esse é o nível mais elevado desde novembro de 2021. Para encontrar uma proporção similar, é necessário voltar ao biênio 2020-2021, quando os gastos emergenciais com a covid-19 inflaram o endividamento. O pico histórico foi registrado em outubro de 2020, quando a dívida bruta chegou a representar 87,6% do PIB.
O cálculo da DBGG, feito pelo BC, consolida as obrigações do governo federal, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e de todos os governos estaduais e municipais. Em outubro, um mês antes, a proporção estava em 78,4% do PIB. Em novembro de 2024, o indicador era de 77,5%, mostrando uma clara tendência de alta ao longo do ano.
Dívida Líquida e déficit primário também sobem
Outro indicador relevante, a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), que desconta da dívida bruta os créditos e ativos financeiros dos governos (como as reservas internacionais), também segue em crescimento. Em novembro, ela totalizou R$ 8,2 trilhões, o que corresponde a 65,2% do PIB. No mês anterior, essa relação era de 64,8%.
O panorama fiscal é completado pelo avanço do déficit primário, que é o resultado negativo das contas do governo antes do pagamento de juros da dívida. No acumulado dos 12 meses até novembro, o déficit primário do setor público consolidado ficou em R$ 5,5 bilhões, equivalente a 0,36% do PIB.
Esse resultado representa uma piora em relação a outubro, quando o déficit em 12 meses era de R$ 37,7 bilhões (0,3% do PIB). Analisando apenas o mês de novembro de forma isolada, o rombo foi de R$ 14,4 bilhões, mais que o dobro do registrado no mesmo mês do ano anterior (R$ 6,6 bilhões).
Desdobramentos e composição do resultado fiscal
A piora nas contas de novembro foi puxada principalmente pelo governo central, que registrou um déficit primário de R$ 16,9 bilhões. As empresas estatais federais, estaduais e municipais contribuíram com um déficit adicional de R$ 2,9 bilhões.
Um ponto de alívio parcial veio dos governos regionais (estados e municípios), que, em conjunto, apresentaram um superávit primário de R$ 5,3 bilhões no período. No entanto, esse resultado positivo não foi suficiente para compensar os rombos das outras esferas.
Os números consolidados reforçam os desafios enfrentados pela política fiscal brasileira, com um endividamento que retorna a patamares elevados e um resultado primário que permanece em terreno negativo, pressionando a trajetória futura da dívida pública.