A recente decisão do governo boliviano de eliminar subsídios históricos ao combustível desencadeou uma crise de abastecimento e preços no país. O reflexo imediato tem sido sentido do outro lado da fronteira, no Brasil, onde postos de combustível em Corumbá, Mato Grosso do Sul, estão sendo procurados por uma onda de cidadãos bolivianos.
Decreto governamental provoca alta histórica nos preços
O cenário de escassez e filas começou após um decreto presidencial na Bolívia que pôs fim a subsídios que vigoravam há pelo menos vinte anos. A medida resultou em aumentos abruptos: o preço da gasolina subiu aproximadamente 86%, enquanto o diesel teve um salto ainda mais expressivo, de 160% em apenas quinze dias.
Nas cidades bolivianas de Puerto Quijarro e Puerto Suarez, que fazem fronteira com o Brasil, os consumidores enfrentam longas esperas para conseguir abastecer seus veículos. A combinação de preços em alta e dificuldade de encontrar produto disponível tem motivado a migração para o território brasileiro.
Fuga para Corumbá: "Aqui conseguimos abastecer mais rápido"
Em Corumbá, os postos de combustível registram um movimento incomum de veículos com placas da Bolívia. A boliviana Geraldine Greco resumiu a situação ao comparar a experiência nos dois lados da fronteira. "Embora os preços sejam mais caros aqui no Brasil, aqui conseguimos abastecer de maneira muito mais rápida", afirmou.
Os números comprovam a diferença: enquanto na Bolívia o litro da gasolina custa cerca de 7 pesos bolivianos (equivalente a R$ 5,60), em Corumbá o valor é de R$ 6,80 por litro. Apesar do preço mais alto, a garantia de abastecimento rápido tem sido o fator decisivo para os consumidores.
Impacto econômico positivo para o comércio local
O fluxo de clientes bolivianos gerou um impacto significativo nas vendas do lado brasileiro. De acordo com registros locais, as vendas de combustível aumentaram cerca de 30%. Alguns postos mais que dobraram o volume comercializado, passando de uma média de 3 mil litros por dia para quase 7 mil litros diários.
Esdras Ayard Melgar, gerente de um posto de combustível em Corumbá, avalia positivamente o movimento. "Para Corumbá, para o comércio é bom porque gera mais emprego, vamos precisar de mais gente para trabalhar e isso é muito bom", comentou. O aumento na demanda movimenta não apenas os postos, mas toda a cadeia de serviços na cidade fronteiriça.
A crise boliviana, portanto, cria um cenário paradoxal na região de fronteira: enquanto um país enfrenta desabastecimento e protestos devido a uma medida econômica, o município brasileiro vizinho experimenta um surto de atividade comercial, mostrando como as economias locais estão interligadas, independentemente das divisas nacionais.