Diretor da Fogo de Chão defende pecuária na COP30: não é vilã do clima
Fogo de Chão: pecuária não é vilã do aquecimento global

Em meio às discussões da COP30 sobre mudanças climáticas, o setor de proteína animal enfrenta crescente pressão de ativistas ambientais. Contudo, para Paulo Antunes, diretor-geral da rede de churrascarias Fogo de Chão no Brasil, a pecuária não deve ser considerada a grande vilã do aquecimento global.

Adaptação ao novo consumidor

O executivo, que comanda a marca de 46 anos com mais de 100 unidades worldwide, reconhece as mudanças no comportamento do consumidor. O crescimento do veganismo entre as gerações Z e millennials tem levado a rede a repensar seu posicionamento sem abandonar suas raízes.

"Reverenciamos a tradição do churrasco, mas também inovamos muito", afirma Antunes. "Estou aqui há quase seis anos e já vi clientes veganos voltarem à casa porque apreciam nossa mesa de salada. Isso permite receber quem não come carne, sem abandonar o rodízio tradicional."

Posicionamento sobre sustentabilidade

Questionado sobre a inclusão de carnes vegetais ou de laboratório no cardápio, o diretor foi taxativo: a Fogo de Chão não pretende incorporar essas alternativas no momento. A empresa mantém orgulho da carne que serve, com rastreabilidade e origem cuidadosa, seguindo o conceito "farm to table".

"Compramos de quem cria, não de intermediários", explica. "Da mesma maneira, a oferta vegana é diferenciada e pensada para quem valoriza uma boa salada. Por enquanto, não incorporamos carnes artificiais ou de laboratório."

Investimentos em energia renovável

Antunes detalhou as ações ambientais da empresa: a Fogo de Chão compra energia certificada por fontes renováveis, investe em tecnologias de economia de água e energia, e conscientiza equipes sobre eficiência no uso de recursos como luz, água e ar-condicionado.

"Fazemos investimentos em tecnologia para gestão do dia a dia e para sermos mais econômicos; isso é nossa contribuição direta", afirmou o diretor durante entrevista à coluna GENTE em 16 de novembro de 2025.

Visão sobre o debate climático

Para Antunes, a questão mais evidente do aquecimento global está nos combustíveis fósseis, não na pecuária. Ele defende que o esforço global deve focar na substituição por fontes renováveis, um movimento que considera irreversível.

"Já no caso da proteína animal, não vejo, hoje, uma alternativa capaz de substituí-la em larga escala com a mesma experiência", argumenta. "Acredito que essa discussão ainda vai levar tempo, porque emular a proteína animal em laboratório, com a mesma entrega sensorial, é algo muito difícil."

O diretor citou ainda Bill Gates para reforçar seu ponto sobre o equilíbrio necessário: "A crise climática é importante, mas não pode combatê-la sem deixar de observar a qualidade de vida das pessoas. Esse equilíbrio é complexo."

Demanda global por carne

Antunes revelou que, apesar das pressões ambientais, a demanda por carne continua maior que a oferta em nível global. Mesmo com restrições pontuais em alguns mercados, não houve sobra de carne no Brasil, com o produto sendo redirecionado para outros destinos.

"Existe, sim, migração de proteína bovina para frango ou peixe, mas de modo geral a demanda por proteína animal segue superior à oferta", constata o executivo.

Perspectivas econômicas e trabalhistas

Sobre o ambiente econômico, Antunes expressou preocupação com a reforma tributária. "Se houvesse redução de impostos a economia poderia aquecer; como está dado que há previsão de aumento com esta reforma tributária, a tendência é de arrocho", analisa.

Quanto à proposta de mudança da escala de trabalho de 6×1 para 5×2, o diretor vê um grande desafio de rentabilidade para as empresas. Ele acredita que países mais desenvolvidos podem caminhar nessa direção, mas o Brasil estaria algumas gerações distante desse patamar.

O executivo finalizou reforçando seu ceticismo em relação a taxação de grandes fortunas, defendendo que incentivos ao investimento geram mais emprego e desenvolvimento do que aumentar a arrecadação governamental.