Lucro do Banco do Brasil cai 47,4% com novas regras do BC
Queda de 47,4% no lucro do Banco do Brasil

Os bancos brasileiros enfrentaram um terceiro trimestre desafiador em 2025, com resultados significativamente impactados pelas novas regras do Banco Central. O Banco do Brasil foi o que mais sentiu os efeitos, registrando uma queda de 47,4% no lucro nos primeiros nove meses do ano comparado ao mesmo período de 2024.

Impacto das novas regras do Banco Central

A Resolução 4.966, em vigor desde janeiro de 2025, trouxe mudanças substanciais na contabilidade de receitas não recebidas. O chamado "Stop-Accrual" deixou de considerar apenas operações com atraso superior a 60 dias e passou a abranger ativos financeiros com problemas de recuperação de crédito.

No Banco do Brasil, o impacto foi mais severo nas operações de crédito rural com pessoas físicas, que não puderam mais ser renovadas pelos gerentes. Enquanto as receitas financeiras cresceram apenas 16% no ano, as despesas financeiras encareceram 39,2%.

O custo do crédito, formado pelas despesas de perda esperada mais descontos concedidos e menos receitas com recuperação, aumentou 66,4%, alcançando R$ 44,0 bilhões até setembro.

Agronegócio: grandes produtores lideram calotes

O Banco do Brasil, tradicionalmente o banco do agronegócio, viu seus maiores problemas concentrados nos criadores de gado bovino. Este segmento absorveu 22,9% dos créditos até setembro, sendo 17,3% para pecuária de corte e 5,6% para produtores de leite.

Os números revelam uma distribuição desigual: 67,8% dos créditos foram destinados a grandes e médios proprietários, enquanto os pequenos produtores receberam apenas 19,3%. Máquinas e equipamentos ficaram com 14%, a soja com 10% e o café com 2,95%.

Com as novas regras contábeis, a inadimplência da carteira com atraso superior a 60 dias saltou de 7,2% em junho para 9,1% em setembro. O custeio agropecuário, que tinha atraso de 2,21% em setembro de 2024, chegou a 6,32% em setembro de 2025, um aumento de 87,5%.

Contraste entre portes de produtores

Enquanto os grandes produtores apresentam os maiores índices de inadimplência, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) manteve relativa estabilidade: 1,35% em setembro de 2024, 1,58% em junho e 1,82% em setembro de 2025.

Impacto no sistema financeiro nacional

O Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central mostrou que a Resolução 4.966 causou redução de 1,2% nas receitas totais do Sistema Financeiro Nacional, equivalente a R$ 12,2 bilhões no período.

As operações com pessoas jurídicas sofreram a maior baixa: 2,4% de redução, com perdas de R$ 6,4 bilhões. Já as operações com pessoas físicas tiveram impacto negativo de 0,8% (R$ 5,8 bilhões).

Entre os quatro maiores bancos - Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander -, as despesas com provisões para devedores duvidosos aumentaram 31,6% frente ao terceiro trimestre de 2024, totalizando R$ 42,157 bilhões.

Perspectivas para o último trimestre

O Banco Central projeta aumento adicional de risco e inadimplência em todos os segmentos no quarto trimestre de 2025:

  • Grandes empresas: condições ligeiramente mais restritivas
  • Micro, pequenas e médias empresas: fatores ligados à inadimplência mais restritivos
  • Pessoas físicas - Consumo: nível de inadimplência superou expectativas
  • Pessoas físicas - Habitacional: condições mais restritivas devem persistir

O relatório do BC adverte que "o crescimento no endividamento, e seu respectivo custo, deve pressionar mais os balanços em um cenário de arrefecimento da atividade", representando um ponto de atenção para os períodos futuros.