Estudo da Unifal revela dívida per capita em cidades mais ricas do Sul de MG
Unifal analisa dívida pública nas cidades mais ricas do Sul de MG

Uma pesquisa inédita desenvolvida pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal) trouxe à tona um retrato detalhado da saúde financeira das cidades mais ricas do Sul de Minas Gerais. O estudo focou nos dez municípios com os maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) da região e revelou disparidades significativas no nível de endividamento público por habitante, desafiando a noção de que riqueza municipal anda sempre de mãos dadas com contas equilibradas.

O ranking da dívida: quem deve mais por habitante?

O levantamento, realizado com dados de 2024 do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, analisou as situações de Extrema, Pouso Alegre, Poços de Caldas, Varginha, Alfenas, Itajubá, Passos, Três Corações, Lavras e Guaxupé. A conclusão é que a realidade fiscal de cada uma segue caminhos distintos.

Poços de Caldas surge com o cenário mais emblemático: mesmo estando entre os três maiores PIBs da região, lidera o ranking de endividamento per capita, com uma média de R$ 2.707 por morador. Na ponta oposta está Extrema, que detém o maior PIB regional, estimado em cerca de R$ 13 bilhões, e apresenta a menor dívida por habitante entre os analisados.

Na sequência do ranking de menor endividamento, aparecem Alfenas, com pouco mais de R$ 1.400 de dívida por habitante, e Itajubá, com cerca de R$ 1.000. Varginha, Três Corações, Pouso Alegre, Passos, Lavras e Guaxupé completam a lista com valores menores na comparação.

PIB alto não é sinônimo de dívida baixa

Os dados comprovam que um elevado Produto Interno Bruto não se traduz, automaticamente, em um baixo endividamento municipal por cidadão. O estudo destaca casos que ilustram perfis de gestão fiscal completamente diferentes.

Pouso Alegre, por exemplo, possui o segundo maior PIB da região, mas registra uma dívida de pouco mais de R$ 400 por habitante. Já Varginha, com um PIB em torno de R$ 8 bilhões, tem uma dívida per capita próxima de R$ 900. Essas diferenças refletem históricos de investimentos e escolhas administrativas particulares de cada cidade.

"Dívida boa" versus "dívida ruim": a análise dos especialistas

O professor de Finanças Públicas da Unifal e coordenador da pesquisa, Cláudio Caríssimo, ressalta que a dívida pública municipal não deve ser julgada de forma isolada. Ele explica que um município ter uma dívida elevada não é, necessariamente, uma condição desfavorável.

"A dívida pode decorrer de investimentos. É o que chamamos de 'dívida boa', porque se o município constrói pontes, hospitais, escolas, ele precisa desse capital de terceiros e isso gera um retorno para a população", detalha o professor. Por outro lado, a chamada "dívida ruim" acontece quando os recursos obtidos por empréstimos são usados para custear despesas correntes, sem gerar um legado estrutural ou melhorias palpáveis para os cidadãos.

Transparência e ferramenta para gestão

A pesquisa foi conduzida por estudantes dos cursos de Administração Pública, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas do campus de Varginha da Unifal. Além de analisar o endividamento, o trabalho tem como objetivo ampliar a transparência pública e facilitar a compreensão dos dados fiscais, que costumam ser divulgados apenas em valores brutos, de difícil comparação.

Ao calcular indicadores como a dívida por habitante, o estudo permite uma comparação mais justa e acessível entre os municípios. Essa iniciativa contribui para que gestores públicos, eleitores e cidadãos em geral possam avaliar com mais clareza como as finanças públicas estão sendo administradas.

Segundo a universidade, o estudo completo será encaminhado às prefeituras dos dez municípios analisados. A expectativa é que ele sirva como uma ferramenta valiosa de apoio ao planejamento e à tomada de decisões das administrações municipais, incentivando um debate mais qualificado sobre a gestão dos recursos públicos no Sul de Minas.