Um impasse entre a Prefeitura de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e uma empresa construtora mantém paralisadas há mais de dois anos as obras de duas pontes importantes para a mobilidade urbana. Os contratos, firmados em julho de 2024 e que somam mais de R$ 5 milhões, estão judicializados, sem previsão de retomada, e os materiais das construções já começam a sofrer com a ação do tempo.
Detalhes das obras paralisadas
Os dois projetos envolvem a construção de uma ponte ligando a Avenida Presidente Kennedy à Rua Alzira Couto Machado, na região da Avenida Maurílio Biagi, e outra na Avenida Rio Pardo, com conexão à Via Norte. A empresa Alcalá Engenharia venceu as licitações para executar as obras.
A ponte na região da Maurílio Biagi teve orçamento inicial de R$ 2,6 milhões e prazo de conclusão de sete meses, mas apenas 10% dos serviços foram realizados. Já a obra na Via Norte foi orçada em R$ 2,5 milhões para ser finalizada em oito meses, com um avanço de apenas 20%. A Prefeitura já desembolsou R$ 600 mil em cada projeto, incluindo adaptações no trânsito do entorno.
Consequências do impasse e degradação
Desde o primeiro semestre deste ano, as obras estão completamente paradas. A construtora solicitou um aditivo contratual de R$ 700 mil, alegando aumento de custos, mas a administração municipal recusou o pedido. Diante da negativa, a empresa moveu ações judiciais.
Enquanto o impasse se arrasta, vigas e outros materiais ficam expostos às intempéries. O engenheiro civil Anderson Manzoli, consultado pela reportagem, alerta para os riscos. "A umidade entra no concreto e atinge as ferragens. Esse ferro oxida e perde resistência. Uma viga deixada ao sol e chuva assim perde vida útil e pode estragar completamente", explica.
Para a população, o prejuízo é diário. "Todo esse tempo parado é aumento do índice de acidentes, piora na qualidade de vida, é mais fila, que nós ribeirão-pretanos estamos sofrendo", afirma o engenheiro.
Posicionamento da Prefeitura e da Construtora
O secretário municipal de Obras, Walter Telli, afirma que a empresa não apresentou motivos legítimos para o aditivo. "Ela exigia compensações que não eram devidas e a Prefeitura bateu o pé... mesmo sofrendo com o atraso, impactando a vida das pessoas", disse. Sobre a obra na Via Norte, a Justiça já deu parecer favorável à Prefeitura, suspendendo o contrato, mas ainda cabe recurso. A expectativa é lançar uma nova licitação no início do próximo ano.
Já a Alcalá Engenharia informou que havia erros de projeto nas duas pontes que poderiam comprometer a segurança, o que levou à paralisação. A empresa alega que notificou a Prefeitura, que os problemas geraram custos adicionais não considerados, e que a administração cortou pagamentos de etapas já executadas. A construtora vai recorrer na Justiça sobre o encerramento do contrato da Via Norte.
A Prefeitura rebate, afirmando que corrigiu os problemas apontados e que os projetos foram ajustados para a nova licitação, considerando os serviços já realizados. O município projeta que a conclusão das obras ficará mais cara devido à inflação do setor, medida pelo Índice Nacional de Preços da Construção Civil, onerando ainda mais os cofres públicos.