Situação financeira crítica nos Correios
Os Correios enfrentam uma das piores crises financeiras de sua história, com um prejuízo acumulado de R$ 6,1 bilhões nos primeiros nove meses de 2025. O resultado, aprovado pelo conselho de administração da empresa nesta sexta-feira (28), representa quase o triplo do rombo verificado no mesmo período do ano anterior, que foi de R$ 2,14 bilhões.
Queda de receita e aumento de custos
A estatal atribui o desempenho negativo à combinação de dois fatores principais: queda nas receitas e aumento nas despesas operacionais. A receita bruta de vendas e serviços ficou em R$ 12,8 bilhões até setembro, uma redução nominal de 12,3% em comparação com 2024. O segmento de postagens internacionais foi o que mais contribuiu para essa queda, passando de R$ 3,17 bilhões para apenas R$ 1,13 bilhão.
Enquanto as receitas caíam, os custos com pessoal subiram de R$ 7,72 bilhões para R$ 8,25 bilhões no período analisado, uma variação nominal de 6,9%. Esse aumento reflete o acordo coletivo firmado no ano passado, que concedeu reajuste linear de 4,11% para mais de 55 mil empregados.
Plano de resgate e reestruturação
Para enfrentar a crise, os Correios negociam com bancos públicos e privados um empréstimo de R$ 20 bilhões. A operação será vinculada a um amplo plano de reestruturação que inclui medidas como:
- Programa de Demissão Voluntária (PDV)
- Reformulação do plano de saúde
- Fechamento de agências
- Novo plano de cargos e salários
A empresa também estuda repassar parte de seus imóveis para a Emgea (Empresa Gestora de Ativos), numa tentativa de acelerar a venda desses bens e obter uma injeção imediata de recursos.
Impacto nas contas públicas
A situação dos Correios tem reflexos diretos nas contas do governo. Na semana passada, o Executivo precisou segurar R$ 3 bilhões em despesas para compensar o resultado da estatal, que deve levar ao estouro da meta fiscal das empresas públicas federais.
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, a situação da empresa pode ter um impacto ainda maior nas contas em 2026. As estimativas do governo apontam para um déficit primário de R$ 5,8 bilhões neste ano.
O aumento do estoque de precatórios (sentenças judiciais) também preocupa. No final do terceiro trimestre, o saldo dessas obrigações alcançou R$ 2,48 bilhões, cerca de cinco vezes o valor registrado um ano antes (R$ 508,8 milhões). Desse montante, R$ 990 milhões serão quitados ainda este ano.
Os Correios passaram por um período de resultados positivos entre 2017 e 2021, com destaque para a pandemia de Covid-19 devido à expansão do comércio eletrônico. No entanto, desde 2022, a empresa voltou a acumular prejuízos crescentes, agravados pela chamada "taxa das blusinhas" e por desafios estruturais que comprometem sua competitividade.