Morre Mãe Elzita, última matriarca do Tambor de Mina no MA, aos 91 anos
Morre Mãe Elzita, matriarca do Tambor de Mina, aos 91 anos

O Maranhão perdeu uma de suas mais importantes guardiãs da cultura e da espiritualidade. Morreu, aos 91 anos, Elzita Vieira Martins, conhecida como Mãe Elzita, reconhecida como a última grande matriarca da tradição do Tambor de Mina no estado. A notícia do falecimento, ocorrido nesta quinta-feira (25), foi confirmada, embora a causa da morte não tenha sido divulgada pela família.

Uma vida dedicada à tradição e ao acolhimento

Mãe Elzita era a fundadora e dirigente espiritual do Terreiro Fé em Deus, espaço sagrado que ela mesma criou em 1966, no bairro do Sacavém, em São Luís. Por mais de cinco décadas, ela foi uma coluna central na preservação e transmissão dos saberes das religiões de matriz africana na região. Sua trajetória começou no terreiro Nanã Borokô, de onde saiu para assumir a liderança de sua própria casa após o passamento de sua mãe-de-santo, Dona Denira.

De acordo com a antropóloga Maria do Socorro Rodrigues de Souza Aires, que pesquisou o terreiro por mais de 20 anos, Mãe Elzita era uma guardiã fiel dos ensinamentos originais. “Ela fazia questão de manter os ensinamentos de sua mãe-de-santo e trabalhava apenas com mediunidade feminina”, destacou a pesquisadora em entrevista. No Tambor de Mina, ela não tinha filhos de santo homens, mantendo uma linhagem matriarcal. Tinha apenas um filho na pajelança, prática de cura de origem indígena.

O legado de uma matriarca

Nascida em 16 de janeiro de 1934, na capital São Luís, Mãe Elzita tornou-se uma referência religiosa e cultural para diversas gerações. Ela era conhecida não apenas pela firmeza na manutenção dos rituais, mas especialmente pelo acolhimento e pela formação cuidadosa de suas filhas de santo. Sob sua liderança, o Terreiro Fé em Deus manteve vivas tradições, festas e celebrações que misturam práticas afro-religiosas com manifestações culturais maranhenses.

“Quero que todos saibam do legado de Mãe Elzita, de quem era essa grande mulher, essa pessoa maravilhosa e esse exemplo de amor e acolhimento”, expressou a antropóloga Socorro, emocionada. Nas redes sociais, a comoção foi imediata. Frequentadores e admiradores do terreiro descreveram a líder espiritual como uma pessoa “acolhedora” e “de luz”, lamentando profundamente sua partida.

Uma página que se vira na história cultural do Maranhão

A morte de Mãe Elzita marca o fim de uma era para o Tambor de Mina no estado. Como a última matriarca de sua geração, ela carregava consigo um conhecimento ancestral e uma autoridade espiritual insubstituível. Seu trabalho garantiu que rituais e saberes específicos não se perdessem com o tempo, resistindo a pressões e mudanças sociais.

O corpo de Mãe Elzita será velado e sepultado no Cemiterio Pax União, localizado na Estrada da Maioba, em São Luís. A cerimônia de despedida está marcada para as 16h desta quinta-feira, reunindo familiares, filhos e filhas de santo, e toda uma comunidade que vê em sua história um pilar fundamental da identidade cultural e religiosa do Maranhão. Sua ausência deixa um vazio, mas seu legado de resistência, fé e tradição permanece como uma semente plantada para o futuro.