Imagine só: um manuscrito perdido, quase uma lenda, do francês mais transgressor do século XX, finalmente saindo das sombras e chegando às prateleiras do Brasil. Pois é, caro leitor, isso não é um devaneio. A obra inacabada de Jean Genet, aquele mesmo que chocava Paris com suas peças e romances, está entre nós.
E o tema? Nada mais, nada menos, do que a figura absolutamente fascinante – e tremendamente subversiva para a sua época – do imperador romano Heliogábalo. Um adolescente que assumiu o trono e, pasmem, desafiava todas as convenções de gênero no auge do Império. Dizem as más línguas (e os bons historiadores) que ele preferia ser chamada de imperatriz. Genet, claro, viu nisso a matéria-prima perfeita para sua escrita afiada.
Uma Bomba Relógio Literária
O que temos aqui não é apenas um livro. É uma declaração de guerra contra a normatividade, um soco no estômago da história tradicional. A Editora Iluminuras, sempre com um farimpa para ousadias, traz essa pérola em uma edição caprichada. A tradução saiu das mãos do Luis Dolhnikoff, que mergulhou de cabeça no texto fragmentado e poético de Genet.
E olha, a coisa é densa. A introdução e as notas, assinadas pelo pesquisador Rafael Stanzione de Moraes, são quase um livro à parte. Ele não apenas explica o contexto histórico de Heliogábalo – um sírio que virou imperador e cuja identidade de gênero era fluida – mas também desvenda por que Genet, um ex-presidiário e homossexual assumido, se identificou tanto com essa figura.
Por Que Isso É Tão Revolucionário?
- Genet via Heliogábalo como um símbolo máximo da quebra de tabus. Alguém que usou o poder supremo para escarnecer das regras.
- O texto é uma mistura de ensaio histórico, ficção lírica e manifesto político. Uma verdadeira colagem genial – e um tanto caótica.
- Chegar ao Brasil em 2025 não é mera coincidência. Num momento de tantos debates sobre identidade, a obra ressoa com uma força brutal.
Não espere uma biografia linear. O manuscrito, recuperado dos arquivos, é cheio de idas e vindas, cortes bruscos e insights fulminantes. Parece que Genet escrevia na beira do abismo, o que só aumenta o fascínio. É daquelas leituras que ficam ecoando na cabeça dias depois.
E aí, preparado para mergulhar nesse turbilhão de história, gênero e pura rebeldia literária? As livrarias já têm o exemplar. É uma chance única de ler o que poucos imaginavam que existia.
