No interior de São Paulo, a cidade de Itápolis carrega um título que aguça o paladar: capital nacional do sorvete. A pequena cidade se destaca não apenas pela quantidade impressionante que fabrica – mais de meio milhão de litros por ano –, mas também pela ousadia e criatividade na criação de novos sabores, que atraem visitantes de diversos estados.
Da Crise da Laranja ao Sabor Inovador
A história do sorvete em Itápolis nasceu de uma necessidade. No final da década de 1990, a cidade, antes forte na produção de laranja, enfrentou uma crise no setor. "Nós estávamos jogando laranja no chão, não tinha mais o que fazer, não tinha para quem vender", relembra um dos empresários locais. Foi assim que a comunidade se reinventou, encontrando no sorvete uma nova vocação econômica.
Hoje, são 22 sorveterias com produção própria, concentração que, segundo a associação do setor, é a maior do país. Mais de 400 famílias com raízes em Itápolis estão espalhadas pelo Brasil e contribuem para a produção nacional de sorvetes.
Sabores Gastronômicos e a Força da Comunidade
A inovação é marca registrada. Um dos sabores mais diferentes e comentados foi criado pelo chef Flávio Augusto: sorvete de tomate com manjericão e gotas de limão. "Ele nasce dessa ideia de trazer o conceito do sorvete gastronômico para dentro da loja. Tem essa essência de ser um toque mais salgado, essa combinação do agridoce", explica Flávio. A iguaria é servida como porção e até acompanhada de cerveja frutada, numa proposta de happy hour singular.
O empresário Edwilson Ricca destaca que a produção é sensível aos gostos regionais do Brasil. "Para cada região do país, existe um favorito", afirma. Enquanto no interior paulista prevalecem os sabores tradicionais e mais antigos, no Rio de Janeiro há demanda por sabores como tapioca e pistache especial. Já no Nordeste, as frutas tropicais e mais ácidas do cerrado brasileiro são as estrelas.
Impacto Econômico e Parceria com o Campo
O movimento das sorveterias não beneficia apenas o comércio local. Toda a cidade sente o reflexo positivo. Produtores rurais da região também lucram com a parceria, fornecendo frutas frescas diretamente para a fabricação dos sorvetes.
"Há dois anos e meio surgiu essa parceria com a sorveteria de Itápolis. É bom porque a gente não perde fruta... a gente agrega valor na venda", comenta o engenheiro agrônomo Carlos Eduardo Talon. Ele ressalta que esse ciclo gera faturamento, movimenta o comércio e garante um produto final de alta qualidade, com frutas colhidas frescas do campo.
Assim, Itápolis transformou um momento de dificuldade em uma deliciosa e próspera identidade, consolidando-se como um polo de criatividade, empreendedorismo e sabor, que hoje respira e vive do sorvete.