Adeus à Enoteca Saint Vinsaint: O Fim de Uma Era dos Vinhos Naturais em São Paulo
Enoteca Saint Vinsaint fecha: fim era vinhos naturais

Parece que São Paulo vai ficar um pouco mais sem graça. Quem diria que aquele cantinho especial na Vila Madalena, que tantas histórias guardava entre suas garrafas, simplesmente vai virar memória.

A Enoteca Saint Vinsaint — sim, aquela mesma que te fez entender que vinho podia ser muito mais do que uma bebida — está fechando as portas. E olha, não é exagero dizer que o buraco que vai ficar é daqueles que não se preenche com qualquer coisa.

O que estamos perdendo, exatamente?

Imagine um lugar onde o vinho não era tratado como produto, mas quase como um ser vivo. Onde os produtores eram tratados pelo nome, as histórias por trás de cada garrafa eram contadas com paixão genuína, e cada gole era uma descoberta. Era isso que a Saint Vinsaint oferecia — uma experiência, não apenas uma compra.

Fundada em 2014 pelo sommelier francês Jean-Charles Goux e sua sócia brasileira Paula Pratz, a casa não apenas vendia vinhos naturais: ela os defendia com unhas e dentes. Eles basicamente educaram uma geração inteira de paulistanos sobre o que significa beber algo puro, sem aditivos, sem interferências.

O que mais dói nesse fechamento? Talvez seja a constatação de que lugares com alma genuína estão ficando cada vez mais raros. A Saint Vinsaint resistiu à pandemia, às crises econômicas, mas parece que algumas batalhas são maiores do que a paixão pode suportar.

O legado que fica

Pense bem: quantas pessoas descobriram que vinho podia ter gosto de terra molhada, de fruta madura do pé, de minerais puros, graças a essa casa? Quantos enófilos de primeira viagem se tornaram verdadeiros apreciadores depois de uma conversa naquele balcão aconchegante?

O mais irônico? A casa fechava justamente quando o movimento dos vinhos naturais no Brasil finalmente atingia a maturidade. Depois de tanto plantar, colhemos a notícia de que não poderíamos mais desfrutar do fruto no mesmo lugar.

Os proprietários, em comunicado emocionado, agradeceram aos clientes que se tornaram amigos, aos produtores que confiaram seu suor em garrafas, e a todos que fizeram da Saint Vinsaint muito mais que um comércio — um ponto de encontro, quase uma confraria.

E agora, o que será de nós?

Restam as lembranças. Das degustações que pareciam aulas de filosofia, das garrafas que contavam histórias de vinhedos distantes, daquele jeito único de fazer a gente se sentir em casa mesmo estando a quilômetros de qualquer lugar que se parecesse com isso.

O fechamento da Saint Vinsaint deixa uma lição amarga: valorizemos os lugares com alma enquanto eles ainda estão por aí. Porque quando partem, levam consigo pedaços da cidade que nunca mais serão os mesmos.

Enquanto preparavam as últimas caixas, alguém deve ter se lembrado daquela frase que sempre repetiam: "O vinho natural não é uma moda, é um retorno ao essencial". Pois é, talvez o essencial esteja ficando cada vez mais escasso — e não só no vinho.