
Setembro reserva uma daquelas experiências artísticas que ficam na memória — e não é exagero. O Theatro Municipal de São Paulo vai receber, entre os dias 20 e 28, nada menos que Porgy and Bess, a famosa ópera folk de George Gershwin. Mas calma, que isso aqui não é só mais uma récita.
Pela primeira vez na história do Municipal, a montagem conta com um elenco majoritariamente negro. E olha, não é só nos papéis principais: a direção é assinada por um negro, a regência por uma mulher negra, e o coro… ah, o coro! Quase 80% dos cantores são negros. Algo raro, quase inédito, no universo da ópera nacional.
Não é só espetáculo, é statement
A montagem é uma realização da São Paulo Companhia de Dança — que inova ao entrar no território lírico — em parceria com a Preta Ópera Produções Artísticas. A ideia? Dar voz, corpo e presença a artistas negros num palco que, convenhamos, sempre foi bastante… monocromático.
“Porgy and Bess” já nasceu com DNA revolucionário. Estreou em 1935, com libreto de DuBose Heyward e letras de Ira Gershwin, e desde então é celebrada como uma das maiores óperas americanas. A trama se passa na comunidade negra de Catfish Row, na Carolina do Sul, e mergulha em temas como amor, dor, superação e — claro — resistência.
Quem está no comando?
No pódio, a maestrina Lydia Brown, reconhecida internacionalmente e uma das poucas regentes negras em atividade no mundo. Na direção cênica, David Paul, que já assinou produções na Alemanha e nos EUA. E no elenco, nomes como Nmon Ford (Crown), Indra Thomas (Bess) e Kenneth Overton (Porgy) — todos negros, todos experientes, todos prontos para arrancar lágrimas e aplausos.
Ah, e a orquestra? Fica por conta da Sinfônica Heliópolis, sob a batuta de Lydia. Uma junção que promete emocionar até quem nunca pisou numa casa de ópera.
Por que você não pode perder?
Além do óbvio — Gershwin é Gershwin —, essa montagem carrega um simbolismo difícil de ignorar. Num país com mais de 50% de população negra, ver um palco majoritariamente preto não é só sobre arte: é sobre representação. É sobre ocupar espaços que historicamente foram restritos.
E a música? Impecável. “Summertime”, “I Got Plenty o’ Nuttin’” e “It Ain’t Necessarily So” são algumas das pérolas que ecoarão pela sala centenária do Municipal. Uma sonoridade que mistura espiritual negro, jazz, blues e a grandiosidade sinfônica europeia. De arrepiar.
Os ingressos já estão à venda — e a expectativa é de casa cheia. Setembro vai ser quente na Paulista. Muito quente.