
Imagine o som do berimbau ecoando pelas ruas, os corpos em movimento sincronizado, a energia contagiante de uma tradição que resiste ao tempo. Foi assim que Santarém recebeu, no último fim de semana, o 20º Arte Capoeira — um evento que transformou a cidade em um palco vivo de cultura e resistência.
Não foi só mais um encontro. Foi uma celebração que misturou suor, história e gingado, reunindo mestres que carregam décadas de conhecimento e jovens atletas cheios de vontade de aprender. A praça principal, normalmente tranquila, virou um redemoinho de cores, música e adrenalina.
Raízes que movem o presente
Dona Maria, 72 anos, assistia de longe com um sorriso que não cabia no rosto. "Isso aqui é a nossa identidade", disse, enquanto batia o pé no chão acompanhando a ladainha. Ela tem razão — a capoeira é mais que esporte, é narrativa viva de um povo.
Os workshops? Lotados. Desde as técnicas básicas até aqueles movimentos que fazem o público suspirar — quem nunca torceu o pescoço tentando entender como alguém gira no ar como se a gravidade fosse opcional?
Mestres que são livros abertos
Mestre Caranguejo, um dos nomes mais respeitados da região, deixou claro: "A roda não discrimina. Aqui entra criança, idoso, gringo, quem quiser aprender". E aprenderam mesmo — durante três dias intensos, o conhecimento fluiu como água.
Entre uma aula e outra, histórias. Muitas histórias. Como a do grupo que veio de Belém enfrentando 12 horas de viagem só pra participar. "Valeram cada minuto", garantiu Lucas, 19 anos, ainda ofegante depois de uma exibição que arrancou aplausos.
O evento provou, mais uma vez, que a capoeira não para no tempo — ela se reinventa. Teve até umas jogadas que misturavam passos tradicionais com influências contemporâneas, deixando os puristas de cabelo em pé (no bom sentido).
No final, o que ficou? O cheiro de suor misturado com satisfação, endereços trocados, promessas de "ano que vem tem mais". Santarém mostrou, mais uma vez, por que é um dos berços dessa arte que mexe com o corpo e com a alma.