
Não foi só o Cristo Redentor que tremeu no Rio nesta quinta-feira. A cidade recebeu um verdadeiro terremoto cultural com a estreia da Banda Sinfônica Nacional no Theatro Municipal — e olha que o prédio já viu de tudo em seus 114 anos de história.
Quem pensou que seria mais um concerto tradicional levou um banho de água fria (ou melhor, de surpresas musicais). O programa, cuidadosamente costurado pelo maestro João Carlos Martins — sim, aquele mesmo que superou limitações físicas para continuar regendo — misturou Beethoven com arranjos contemporâneos que fizeram até os mais puristas arregalarem os olhos.
Um repertório que desafia expectativas
Dizem que o diabo mora nos detalhes, mas nesse caso a genialidade é que se escondia nas entrelinhas do programa. A abertura com a Nona Sinfonia de Beethoven — clichê? Nem um pouco. A versão rearranjada para banda sinfônica trouxe texturas sonoras que muitos na plateia juraram nunca ter ouvido antes.
E não parou por aí:
- Um movimento de concerto especialmente composto para a ocasião pelo jovem brasileiro Vinícius de Moraes (não, não é aquele Vinícius)
- Releituras de chorinhos cariocas que ganharam roupagem sinfônica
- Uma peça experimental que usou os instrumentos de sopro de maneiras... digamos, pouco ortodoxas
"Parecia que os músicos estavam desafiando as leis da física", comentou entre os aplausos a professora de música Ana Lúcia, que veio de Niterói especialmente para o evento.
O maestro e sua conexão com o público
João Carlos Martins, aos 84 anos, mostrou porque continua sendo uma das figuras mais carismáticas da música erudita brasileira. Entre uma regência vigorosa e outra, soltava piadas secas que arrancavam risos até dos músicos mais sérios da orquestra.
"Ele consegue extrair dos músicos algo que vai além da técnica", observou o crítico musical Sérgio Cabral, presente na plateia. "É como se cada nota viesse carregada de história — e olha que essa banda tem menos de dois anos de existência."
O concerto marcou o início de uma turnê que passará por outras cinco cidades brasileiras. Mas convenhamos: estrear no Rio, com toda sua tradição musical, não é para qualquer um. A banda não só enfrentou o desafio como deixou o público querendo bis — e olha que o programa já durava duas horas e meia!