
Era uma daquelas manhãs em que o céu de São Paulo parecia mais pesado — e não só por causa do frio de julho. A notícia chegou como um soco no estômago para quem vive de palavras e imagens: Roberto Duailibi, o mago por trás de slogans que viraram parte do nosso cotidiano, partiu aos 89 anos.
Não foi um simples publicitário que se foi. Era um contador de histórias que transformou marcas em personagens da vida brasileira — quem não lembra daquele jingle que grudou na cabeça ou da campanha que virou tema de mesa de bar?
O homem que vendia sonhos (e os entregava)
Em 1968, quando a ditadura militar engolia vozes criativas, Duailibi e seu sócio Francisco Pinto fundaram a DPZ. Não era só uma agência — virou uma fábrica de ideias que misturavam ousadia com um pé no realismo brasileiro. "Publicidade não é arte, é negócio", ele dizia. Mas que negócio bonito fez.
Seu segredo? Talvez aquele olhar de arquiteto (sua primeira formação) que enxergava nas marcas estruturas a serem construídas. Ou a coragem de bancar o "chato" — sim, ele mesmo se descrevia assim — que brigava por cada vírgula de um texto.
Números que falam por si
- Mais de 5 décadas transformando briefings em cultura popular
- Prêmios? Tantos que ocupariam uma sala inteira
- Marcas como Antarctica e Sadia ganharam alma através de suas campanhas
Numa época em que "criativo" virou jargão de LinkedIn, Duailibi mostrava que ideias boas não precisam de filtros — precisam de verdade. E de suor. Muito suor.
O adeus ao mestre
A causa da morte não foi divulgada — e cá entre nós, pouco importa. O que fica é aquela sensação estranha quando percebemos que os gigantes também são... humanos. A família pediu privacidade, mas como manter privado alguém que fez carreira colocando sentimentos coletivos em comerciais de TV?
São Paulo — cidade que ele ajudou a colorir com outdoors memoráveis — hoje parece um pouco mais sem graça. Resta aos livros de história da publicidade e às lembranças de quem trabalhou com ele contar às novas gerações sobre esse homem que entendia como ninguém a alma do consumidor brasileiro.
E se existe um céu para publicitários, com certeza ele já está discutindo o briefing do São Pedro. Afinal, como diria o próprio Duailibi: "Bom mesmo é campanha que vende — e fica na memória". Essa, ele fez de sua própria vida.