
O ar estava pesado, mas não de tristeza — era algo mais complexo, como se o peso das memórias boas fosse tão intenso que quase dava para tocar. Na tarde desta sexta-feira, 19, o velório de Roberto Duailibi, um dos nomes mais respeitados da publicidade nacional, reuniu gente de todos os cantos. E não era qualquer gente: ex-alunos que hoje comandam agências, colegas de profissão que brigavam por um briefing nos anos 80, familiares com sorrisos meio tristes, meio gratos.
Quem chegava ao local — um espaço discreto no coração de São Paulo — era recebido por fotos espalhadas pelas paredes. Roberto em eventos, Roberto dando aula, Roberto com aquela expressão de quem acabou de ter uma ideia genial (e provavelmente tinha). As pessoas se cumprimentavam com abraços demorados, como se tentassem transmitir sem palavras o que sentiam.
O mestre da criatividade
"Ele não ensinava só publicidade, ensinava a pensar", contou uma ex-aluna, os olhos vermelhos mas a voz firme. E era verdade. Duailibi tinha um jeito único de transformar conceitos complexos em algo palpável — e divertido. Quem nunca ouviu uma das suas histórias sobre campanhas que marcaram época? Desde os clássicos da propaganda até os cases mais recentes, o homem era uma enciclopédia viva.
Não à toa, a fila para se despedir dele se estendia pelo corredor. Gerações diferentes, unidas pelo mesmo sentimento: gratidão. Alguns choravam baixinho, outros riam ao lembrar alguma piada que ele contava nas aulas. Afinal, como dizia o próprio Roberto, "publicidade sem humor é como café sem cafeína — não tem graça".
Legado que permanece
Entre os presentes, dava para identificar facilmente os ex-alunos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), onde ele deixou marcas profundas. "Ele me chamou de burro uma vez", confessou um diretor de criação, rindo. "Foi o melhor elogio que recebi — porque veio acompanhado de uma lição que carrego até hoje."
Fora das salas de aula, Duailibi também marcou época à frente da DPZ, agência que ajudou a fundar e que se tornou referência no mercado. Campanhas inesquecíveis, prêmios internacionais e, principalmente, uma maneira única de ver o mundo — esse era o seu cartão de visitas.
À medida que a tarde avançava, as histórias se misturavam com lágrimas e risadas. Um neto contou como o avô transformava até os jantares de família em aulas improvisadas. Um colega de trabalho lembrou das reuniões intermináveis que, de repente, viravam momentos de inspiração. E assim foi, até o fim: Roberto Duailibi, o publicitário, o professor, o contador de histórias, sendo celebrado exatamente como merecia — com afeto, respeito e muita, muita criatividade.