
Ele poderia ser apenas mais um dirigente de escola de samba, mas Flávio dos Santos é daqueles personagens que parecem saídos diretamente de um roteiro de cinema. Presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, ele carrega nas costas não apenas a responsabilidade de comandar uma das agremiações mais tradicionais do carnaval carioca, mas também uma marca permanente que conta parte dessa história.
Imagine você: um homem que se autodenomina "o Al Pacino carioca". A comparação pode parecer ousada à primeira vista, mas quando ele explica, tudo faz sentido. "É aquela intensidade, sabe? Aquele jeito de viver cada papel com uma paixão que quase dói", reflete, com a voz grave de quem conhece bem os palcos da vida.
Na Pele e no Coração
E falando em paixão, vamos ao detalhe que chama atenção: uma tatuagem em tamanho real de Rogério Andrade, fundador da verde e branco, estampada em suas costas. Não é qualquer homenagem - é uma declaração de amor à escola que parece pulsar em sua própria pele.
"As pessoas às vezes estranham", admite com um sorriso que mistura orgulho e certa dose de provocação. "Mas pra mim, é como se ele estivesse sempre ali, me acompanhando, me lembrando de onde viemos e para onde estamos indo."
Da Arquibancada à Presidência
A trajetória de Flávio na Mocidade começou como tantas outras - na arquibancada, ainda criança, acompanhando o pai. O que talvez nem ele mesmo imaginava era que um dia estaria à frente de tudo. A transição do torcedor apaixonado para o dirigente aconteceu de forma orgânica, quase sem que percebesse.
"Um dia você está cantando o samba-enredo no meio da multidão, no outro está resolvendo problemas de horário de ensaio, discutindo orçamento, negociando com fornecedores", conta, com aquele tom de quem já viu de tudo um pouco. "Mas o coração continua batendo no mesmo ritmo do surdo."
O Legado de Rogério Andrade
Rogério Andrade, cuja imagem está literalmente marcada em Flávio, fundou a Mocidade em 1955. Sob seu comando, a escola cresceu, se tornou uma das grandes do Grupo Especial e conquistou títulos importantes. Flávio assume esse legado com a seriedade de quem sabe que está carregando nas costas não apenas uma tatuagem, mas uma história inteira.
"Tem dias que a pressão é grande, não vou mentir", confessa. "Mas aí eu lembro do Rogério, dos caras que construíram isso aqui com as próprias mãos, e sigo em frente."
O Futuro da Verde e Branco
E o que esperar da Mocidade sob o comando deste "Al Pacino carioca"? Flávio promete manter viva a chama da tradição, mas sem medo de inovar. "O samba não pode parar no tempo, mas também não pode perder sua essência", analisa, com a sabedoria de quem entende que equilíbrio é tudo.
Enquanto isso, ele segue com sua tatuagem que é mais que uma simples imagem - é um compromisso, uma declaração de princípios, um pedaço vivo da história da Mocidade Independente de Padre Miguel. E se depender dele, essa história ainda tem muitos capítulos pela frente.