
Era uma tarde cinzenta de agosto quando Aracaju perdeu um de seus mais brilhantes contadores de histórias. Euler Ferreira — aquele homem de olhar perspicaz que transformava notícias em narrativas — partiu aos 75 anos, deixando saudades e um arquivo repleto de memórias impressas.
Quem acompanhava o jornalismo sergipano nas últimas quatro décadas certamente se deparou com suas matérias. Tinha um jeito peculiar de escrever — misturava o rigor da apuração com a leveza das crônicas. "Notícia tem que respirar", costumava dizer nos corredores das redações.
Da máquina de escrever às manchetes digitais
Começou nos tempos em que o chá de fita corretora era parte do ritual jornalístico. Viu o ofício se transformar da máquina de escrever Royal até os smartphones que hoje disparam notícias em tempo real. Mas nunca abriu mão do que considerava essencial: "O jornalismo é, antes de tudo, um compromisso com as pessoas", repetia para os colegas mais jovens.
Seus textos sobre política regional eram temidos pelos poderosos — não pelo tom, sempre equilibrado, mas pela precisão cirúrgica com que desmontava versões oficiais. Já as coberturas culturais respiravam paixão, especialmente quando escrevia sobre o forró pé-de-serra que tanto amava.
O legado que fica
- Mais de 50 prêmios regionais de jornalismo
- Mentor de dezenas de repórteres que hoje atuam em grandes veículos
- Autor do livro "Sergipe em Notícia", referência para estudantes de comunicação
Nos últimos anos, mesmo aposentado, mantinha uma coluna semanal — "só para não enferrujar os dedos", brincava. A última saiu três dias antes de seu falecimento, como quem deixa a redação arrumada para o próximo plantão.
A família ainda não divulgou detalhes sobre o velório. Mas é certo que a câmara fria do hospital onde está sendo velado recebeu mais flores do que muitos políticos em campanha. Justa homenagem para quem fez da verdade seu ofício e da palavra, seu instrumento.