Não é fácil falar sobre a morte de alguém tão querido. Mas Gilberto Gil, com aquela sabedoria que só os anos podem dar, encontrou palavras para descrever o que sentiu ao perder a filha, Preta Gil, para o câncer. "A gente teve tempo", diz ele, como quem tenta explicar o inexplicável. Tempo de se acostumar com a ideia, tempo de sofrer antecipadamente, tempo de se despedir.
E como foi esse tempo? Longo. Dolorido. Cheio de altos e baixos — como uma música triste que você não quer que acabe, mas sabe que vai ter que terminar. A doença de Preta não foi rápida. Ela deu à família a chance de se preparar, de conversar, de chorar junto. "Foi um processo", confessa Gil, com a voz embargada.
O adeus que nunca é fácil
Quem já perdeu alguém sabe: por mais que você se prepare, a dor sempre pega desprevenido. Gilberto Gil, aos 81 anos, fala sobre isso com uma franqueza que corta o coração. "A gente até tenta se blindar, mas quando chega a hora..." — a frase fica no ar, incompleta, como se as palavras fossem pequenas demais para tanta tristeza.
E Preta? Ah, Preta era aquela força da natureza que todo mundo conhecia. Artista como o pai, cheia de vida, de opiniões, de luz própria. Ver ela definhar foi, nas palavras de Gil, "como assistir ao pôr do sol mais lento do mundo". Lindo e trágico ao mesmo tempo.
O legado que fica
Mas não é só de tristeza que se fala. Gilberto Gil — esse brasileiro que já viu tanto — sabe que a vida continua. E o que fica? As memórias, claro. As músicas. A coragem de Preta em enfrentar a doença com a cabeça erguida. "Ela nos ensinou muito", diz ele, com um sorriso que mistura orgulho e saudade.
E aí vem aquela pergunta que não quer calar: como seguir em frente? Talvez a resposta esteja justamente aí — seguindo. Um dia de cada vez. Com a música, com a família, com os fãs que choram junto. Porque é assim que a gente faz, não é? Quando as palavras faltam, a arte fala por nós.
