
O Rio de Janeiro acordou mais triste nesta segunda-feira. Berta Loran, aquela presença que habitou nossas telas e memórias por tantas décadas, partiu. Tinha 83 anos — uma vida inteira dedicada à arte de fazer rir e emocionar.
Quem não se lembra dela? Aquela figura singular que podia ser aristocrática num momento e completamente popular no outro. Dona Cândida, da Grande Família, claro. Mas também tantas outras personagens que ficaram gravadas na retina dos brasileiros.
Uma Carreira que Era um Espelho do Brasil
Pensa numa trajetória que começou nos tempos do rádio — sim, ela era daquelas atrizes completas. Nascida em Buenos Aires, mas mais brasileira que muito gente por aí, chegou ao Brasil nos anos 50 e simplesmente conquistou o país.
O teatro foi sua primeira casa. Depois, a televisão — e que televisão! Trabalhou nas principais emissoras, fez novelas que marcaram época. "O Bem-Amado", aquela obra-prima do Dias Gomes, tinha seu talento. "Sassaricando" também. E tantas outras produções que hoje são pedaços da nossa história cultural.
Mais que Dona Cândida
É claro que a Dona Cândida a imortalizou. Aquela vizinha fofoqueira e cheia de manias do seriado que virou parte da família brasileira. Mas reduzir Berta Loran a um único personagem seria uma injustiça das grandes.
Ela tinha um timing cômico impressionante. Sabia exatamente quantos segundos esperar antes da resposta, como levantar uma sobrancelha para criar o clima perfeito. Essas coisas que só os grandes atores dominam.
Nos últimos anos, mesmo com a saúde mais frágil, nunca perdeu aquela lucidez afiada que sempre a caracterizou. Quem conversava com ela saía impressionado — a mente continuava brilhante.
O Adeus no Rio
Foi no Hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul do Rio, que ela encerrou sua jornada. Causa da morte? Uma pneumonia — aquela velha conhecida que não perdoa os mais frágeis.
O velório acontece neste exato momento no cemitério Memorial do Carmo, no Caju. O enterro? Às 16h, no mesmo lugar. Uma despedida discreta, como costuma ser para aqueles que, mesmo famosos, sempre souberam valorizar a simplicidade.
O sindicato dos atores já se manifestou — e como poderia ser diferente? Classificou a perda como "lamentosa". Um eufemismo para algo que dói muito mais.
O que Fica
Berta Loran deixa um vazio. Daqueles que só os artistas verdadeiros conseguem deixar. Mas também deixa um legado: risos, emoções, personagens que se tornaram quase reais para milhões de brasileiros.
Numa época onde tudo é tão efêmero, sua obra persiste. É daquelas coisas que não saem de moda porque falam sobre algo eterno: a condição humana, com todas suas contradições e graça.
O Rio perdeu uma de suas estrelas. O Brasil, um pedaço de sua memória afetiva. E nós, espectadores, aquela sensação gostosa de reconhecer um talento genuíno toda vez que ela aparecia na tela.