Berta Loran, ícone da comédia brasileira, se despede aos 99 anos: uma vida de risos e pioneirismo na TV
Berta Loran, ícone da TV brasileira, morre aos 99 anos

O palco ficou mais silencioso. Berta Loran, aquela mulher de sorriso fácil e olhar esperto que conquistou o Brasil com seu talento único, partiu. Aos 99 anos, completados em março, ela deixa um vazio que só quem marcou época é capaz de criar.

Nascida na Hungria, sim, mas tão nossa quanto o samba e o cafezinho — Berta chegou ao Brasil nos anos 1940 e simplesmente decidiu ficar. Que sorte a nossa! Ela não apenas adotou o país como transformou-se em peça fundamental do nosso imaginário televisivo.

Mais que uma atriz, uma força da natureza

Quem não se lembra daquela presença de cena? Berta tinha algo que poucos artistas conseguem cultivar: autenticidade. Seja nas comédias da TV Tupi — aquela televisão preto e branco que unia famílias inteiras — ou depois nas produções da Globo, ela era sempre ela. Sem firulas, sem exageros. Natural como conversa de boteco.

E pensar que começou no teatro de revista! Naquela época em que os espetáculos viviam lotados e os artistas precisavam ter jogo de cintura para tudo. Berta tinha. E como tinha!

Uma carreira que atravessou gerações

  • Década de 1950: os primeiros passos na TV Tupi, ainda experimental
  • Anos 1960: consolidação como nome forte da comédia
  • Década de 1970: sucesso em programas de auditório — lembra?
  • Anos 1980 e 1990: participações especiais que roubavam a cena
  • Século XXI: ainda ativa, mostrando que talento não tem idade

Mas sabe o que mais impressiona? Ela nunca parou. Mesmo quando a idade chegou — e chegou com números impressionantes — Berta mantinha aquela chama acesa. Talvez fosse o humor, essa coisa maravilhosa que ela dominava como poucos.

O legado que fica

Berta Loran não era apenas mais uma atriz cômica. Ela representava uma época, um jeito de fazer televisão que valorizava o texto, o timing, a entrega. Na era dos memes e da velocidade digital, faz falta esse humor construído com cuidado, com arte.

Ela mesma, numa daquelas raras entrevistas que concedeu nos últimos anos, brincava: "Hoje tudo é muito rápido. Na minha época, a gente preparava o personagem, ensaiava o gesto, trabalhava o texto. Era outro ritmo". Sábia, como sempre.

O corpo pode ter partido — afinal, 99 anos é uma jornada e tanto — mas o riso que ela provocou? Esse fica. Ecoa nas lembranças de quem a viu ao vivo, nas reprises que eventualmente aparecem, no exemplo que deixou.

O velório acontece neste sábado, no Rio de Janeiro. A cidade que ela adotou e que a adorou em retribuição. Vai ser uma despedida tranquila, imagino. Como ela era. Sem alarde, mas com muito carinho.

Fica a saudade — e a gratidão. Por todos os momentos de alegria, por todo o talento compartilhado, por ter mostrado que é possível envelhecer com graça e continuar relevante. Berta Loran: obrigado por tanto.