
Não é de hoje que celebridades mergulham de cabeça em experiências culturais, mas e quando essa imersão vira um verdadeiro campo minado? Foi mais ou menos isso que aconteceu com Anitta. A cantora, sempre sob os holofotes, resolveu compartilhar com seus milhões de seguidores um momento — supostamente — profundo: sua participação em um ritual tradicional no Território Indígena do Xingu.
As imagens, claro, viralizaram num piscar de olhos. Só que a reação não foi exatamente daquelas que ela esperava. Veio a tona uma crítica pesada, e não de qualquer um. Da própria Alice Pataxó, uma voz respeitadíssima e ativista indígena de carteirinha.
E aí, o que será que deu tão errado? Segundo Alice, a parada não é sobre fechar portas, mas sobre como você bate à porta. Ela não mediu palavras: disse que a forma como a artista se inseriu naquele contexto sagrado foi, no mínimo, problemática. A queixa principal? A sensação de que tudo não passou de um “turismo espiritual” — uma encenação para as câmeras, e não um gesto genuíno de troca ou aprendizado.
O Outro Lado da Moeda
Anitta, como era previsível, não ficou quieta. A resposta veio rápido, e com um tom defensivo. Ela rebateu, afirmando que sua intenção estava longe de ser desrespeitosa. Pelo contrário! A justificativa foi de que tudo foi feito com a devida permissão, com uma autorização expressa das comunidades locais que a receberam de braços abertos.
É aquela velha história: de um lado, a boa-fé de quem acredita estar celebrando uma cultura. Do outro, a sensação de esvaziamento, de que símbolos profundos estão sendo reduzidos a meros acessórios para um post nas redes sociais. Uma discussão espinhosa, para dizer o mínimo.
Um Debate Muito Maior
O buraco é mais embaixo. Muito mais. Essa treta específica escancara uma ferida antiga: a relação, quase sempre desequilibrada, entre a cultura mainstream e os saberes tradicionais dos povos originários.
Alice Pataxó foi direto ao ponto: não se trata de proibir, mas de exigir respeito e contexto. Esses rituais não são performances. São a espinha dorsal de uma identidade, carregados de um significado que transcende — e muito — a estética ou o exotismo.
O recado dela é claro: antes de entrar num espaço sagrado, é preciso entender o peso do que se está fazendo. É sobre consentimento, sobre humildade, e não sobre criar conteúdo viral. Será que a indústria do entretenimento — e seus astros — está mesmo pronta para ouvir?