
Era um daqueles dias em que o sol castigava sem piedade o asfalto da Paraíba quando um padre — cujo nome você já deve ter visto rodando nas redes — soltou uma pérola que deixou todo mundo de cabelo em pé. Não, não foi um sermão sobre caridade. Nem sobre amor ao próximo. O assunto? Orixás. E a forma como ele abordou o tema acendeu um pavio que nem bombeiro apaga.
Segundo relatos, durante um evento público, o religioso disparou: "Cadê esses orixás que não ressuscitaram?" — uma clara referência às religiões de matriz africana. A fala, que mais parecia um soco no estômago da diversidade religiosa, não passou batida. A Associação Paraibana de Defesa das Religiões Afro-brasileiras (APDRA) moveu céus e terras para formalizar uma denúncia no Ministério Público.
O estrago das palavras
Não é de hoje que esse tipo de declaração gera polêmica. Mas dessa vez, o buraco é mais embaixo. A APDRA não só classificou o comentário como "intolerante e discriminatório", como também lembrou que a Constituição Federal — aquela que muita gente esquece que existe — garante liberdade de culto. E olha que ironia: o Brasil, país com mais de 500 anos de história, ainda patina em discussões sobre respeito às diferenças.
Pra piorar, a celebridade Preta Gil, sempre vocal sobre questões raciais e religiosas, já demonstrou apoio às vítimas de intolerância. E quando ela fala, o país escuta. Será que esse caso vai virar mais um capítulo na luta contra o preconceito religioso? Ou vai terminar engavetado como tantos outros?
E agora, Padre?
O clérigo em questão — que preferimos não nomear para não dar ibope — ainda não se manifestou publicamente. Mas a arquidiocese local já soltou uma nota dizendo que "repudia qualquer forma de discriminação". Só que, entre falar e fazer, você conhece o ditado né?
Enquanto isso, nas ruas de João Pessoa, o assunto esquenta mais que o calor de julho. De um lado, fiéis defendendo o padre. De outro, praticantes de religiões afro exigindo respeito. No meio, uma pergunta que não quer calar: até quando vamos tolerar a intolerância?
Ah, e detalhe: se comprovada a ofensa, o caso pode virar um processo judicial. Aí, meu amigo, o buraco vai ficar pequeno para tanta areia.