Moto Romaria em Igarapé-Miri: Fé e adrenalina se encontram em homenagem a Sant'Ana
Fé e motos se unem em romaria para Sant'Ana no Pará

O ronco dos motores ecoou pelas ruas de Igarapé-Miri neste último fim de semana, mas não era apenas mais um encontro de motociclistas. Era algo maior - uma mistura peculiar de devoção e paixão sobre duas rodas que transformou a cidade num verdadeiro palco de fé movido a gasolina e emoção.

Quem passava pelo local podia sentir no ar aquela energia típica de eventos que unem o sagrado e o profano. De um lado, motos brilhando sob o sol paraense; de outro, fiéis com seus terços e imagens de Sant'Ana, a padroeira homenageada. Difícil dizer onde começava a religião e terminava a paixão pelas máquinas - e talvez essa seja justamente a magia do evento.

Uma tradição que ganha as ruas

Não foi à toa que centenas de pessoas marcaram presença. A Moto Romaria já virou tradição no calendário local, crescendo a cada edição. "É impressionante como essa manifestação de fé consegue reunir tanta gente", comentou um dos organizadores, ainda surpreso com o número de participantes.

O ritual tem seu próprio cerimonial: primeiro a concentração, depois a bênção das motos (sim, elas também recebem a proteção divina), e por fim o cortejo que percorre as principais vias da cidade. Quem vê de fora pode achar curioso, mas para os participantes faz todo o sentido - afinal, a moto não é só meio de transporte, é quase uma extensão da própria identidade.

Sant'Ana no guidão

O que mais chama atenção é a criatividade na decoração dos veículos. Alguns motociclistas chegam a gastar semanas preparando suas "máquinas de fé", enfeitando-as com flores, fitas e imagens da santa. Tem até quem instale pequenos altares nos bagageiros - uma prova de que, quando o assunto é devoção, o céu é o limite (ou melhor, a capacidade criativa).

"Minha moto fica linda, mas o importante mesmo é a intenção", confessou uma participante que preferiu não se identificar, enquanto ajustava um arranjo de flores no guidão. "É nosso jeito de agradecer e pedir proteção para as estradas da vida."

E não pense que é só enfeite. Durante o percurso, muitos aproveitam para fazer promessas ou simplesmente refletir sobre a vida. Há quem diga que pilotar numa romaria dessas é quase uma experiência meditativa - só que ao invés de mantras, o som de fundo é o ronco sincronizado de centenas de cilindradas.

Mais que um evento, um fenômeno social

O que começou como uma pequena homenagem acabou se tornando um verdadeiro fenômeno na região. Restaurantes locais aumentam o movimento, hotéis ficam lotados e o comércio agradece pelo aquecimento nas vendas. Até os mais céticos reconhecem o impacto positivo do evento na economia da cidade.

Mas o verdadeiro milagre, se é que podemos chamar assim, talvez seja a forma como a Moto Romaria consegue unir pessoas de perfis tão distintos. Jovens e idosos, homens e mulheres, ricos e pobres - todos compartilhando o mesmo asfalto e a mesma fé, mesmo que por motivos diferentes.

No final, quando os motores se calam e as últimas orações são feitas, fica aquela sensação gostosa de dever cumprido. E já tem gente contando os dias para a próxima edição - porque fé, assim como gasolina, precisa ser reabastecida de tempos em tempos.