Acre perde Monteirinho: música e ativismo de luto aos 76 anos
Morre Monteirinho, ícone musical do Acre aos 76 anos

O silêncio chegou para Monteirinho, mas o eco da sua voz não se cala. Aos 76 anos, partiu um daqueles raros seres humanos que conseguem transformar existência em arte pura — e arte em existência necessária.

Francisco de Assis, nome de batismo que quase ninguém conhecia, era Monteirinho para todo mundo. E que Monteirinho! Homem de sorriso fácil e convicções firmes, ele carregava o Acre no sangue e a Amazônia no coração. Dizia, com aquela sabedoria de quem já viu muita coisa, que "a floresta canta, é só saber escutar".

Mais que música, um chamado

As composições dele? Ah, não eram apenas canções. Eram manifestos melódicos, denúncias harmonizadas, celebrações ritmadas da vida simples. Quem já ouviu "Verde que te quero verde" sabe do que falo — não dá pra escutar e ficar indiferente. A música entra pela pele, chega na alma e planta uma semente de consciência.

E o ativismo? Bem, para Monteirinho, arte e militância eram irmãs siamesas. Nos anos 80, quando falar em preservação ambiental era quase heresia em certos círculos, ele já estava lá, violão em punho, voz firme, defendendo o que chamava de "nossa casa maior".

O legado que fica

Deixa três filhos — não só os de sangue, mas centenas de músicos que aprenderam com ele que tocar não é só sobre acertos nas notas, mas sobre acertar o passo com a vida. Deixa discos que são verdadeiras cápsulas do tempo da cultura acreana. Deixa, principalmente, a certeza de que uma pessoa pode, sim, fazer diferença.

A causa da morte ainda não foi divulgada pela família, que pediu privacidade neste momento de dor. Mas o que importa mesmo é que o Acre perdeu parte da sua alma — e o Brasil, um pedaço da sua consciência musical.

Restam as lembranças. Restam as canções. Resta a lição de que viver com propósito é a maior obra de arte que alguém pode criar.