
Não foi uma discussão qualquer que tomou conta da Praça Paris nesta segunda-feira. Longe disso. O que estava em jogo era algo que mexe com a alma carioca: o direito de celebrar nossa cultura contra a organização do espaço urbano.
Imagine só: aquele jardim impecável, com seus recortes geométricos e vista privilegiada para a Baía de Guanabara, transformado em palco de batucadas e foliões. É exatamente isso que vários blocos carnavalescos defendem com unhas e dentes.
O coração da questão
A discussão vai muito além de simplesmente permitir ou não ensaios. Tem a ver com identidade, com pertencimento — com aquela velha máxima carioca de que o espaço público é, antes de tudo, de todos. Mas será mesmo?
Do outro lado, moradores da região se mostram apreensivos. O barulho, a concentração de pessoas, a possível deterioração do local... São preocupações válidas, diga-se de passaragem. Uma senhora que vive há 40 anos no Flamengo chegou a falar, com voz trêmula mas firme: "Amo o carnaval, mas também amo meu sossego".
Manifesto em versos e prosas
O ponto que mais chamou atenção — e aqui confesso que fiquei genuinamente curioso — foi a tal carta-manifesto. Os blocos não querem apenas ensaiar; querem usar o espaço para divulgar suas ideias, seus protestos em forma de música e alegoria.
É carnaval como protesto, como voz ativa. E a Praça Paris, com sua aura histórica e beleza indiscutível, seria o palco perfeito para esse tipo de manifestação cultural.
O que diz a lei… e o bom senso
A legislação é clara quanto ao uso de espaços públicos para eventos. Requer autorização, planejamento, contrapartidas. Mas será que nossas leis estão preparadas para abraçar manifestações culturais espontâneas? Eis uma questão que vai ecoar beyond desta audiência.
Autoridades presentes ouviram — mais do que isso, escutaram — os argumentos de ambos os lados. Não há resposta fácil, mas o diálogo está aberto. E isso, em uma cidade tão complexa quanto o Rio, já é um grande passo.
O que vai sair disso? Ainda é cedo para dizer. Mas uma coisa é certa: a Praça Paris nunca mais será a mesma depois deste debate. E talvez esse seja exatamente o ponto.