Como BH se tornou um dos principais carnavais do Brasil em 15 anos
Carnaval de BH: de cidade deserta a festa disputada

O Carnaval de Belo Horizonte viveu uma transformação radical nas últimas décadas. Da fama de 'cidade deserta' nos anos 1990, a capital mineira se consolidou como um dos destinos mais procurados para curtir a folia no Brasil, ao lado de tradicionais como Rio, Salvador e Recife.

Da crise ao sucesso: a revolução carnavalesca

O ponto de virada começou em 2009, quando músicos se reuniram de forma improvisada na região Centro-Sul da capital. Essa iniciativa simples - tocar na rua e ocupar o espaço urbano - atraiu dezenas de pessoas e marcou o renascimento da festa na cidade.

Até então, os belo-horizontinos que queriam curtir o feriado costumavam viajar para o litoral ou cidades históricas de Minas. Uma reportagem da Rede Minas em 1990 mostrava o desânimo da época: 'Aqui? Nada', 'sair de Belo Horizonte' e 'sumir da cidade' eram algumas das reações dos moradores.

Números que impressionam

O crescimento foi explosivo. Segundo a Secretaria Estadual de Cultura e Turismo, somente em Belo Horizonte, 6 milhões de foliões celebraram em 2025, ante 5,5 milhões em 2024.

A ocupação hoteleira na capital mineira atingiu 87,5%, com pico de 90,2% no domingo de Carnaval. Em 2024, a média havia ficado em 71,3%, mostrando o aumento constante da procura.

Diversidade que conquista

O Carnaval belo-horizontino se destaca pela força e variedade dos blocos de rua, que trazem um viés democrático de festa para todos os públicos, gostos e idades. Só o bloco do DJ Alok arrastou cerca de 500 mil pessoas em 2025, segundo a prefeitura.

A trilha sonora é igualmente diversa, passeando pelo axé, funk, MPB, rock, sertanejo e pagode. Há blocos que homenageiam ícones da música mineira como Rita Lee, Belchior, Wando e Milton Nascimento.

As famílias também são bem-vindas, com programação especial incluindo blocos infantis como Bloquim duBem, Charangueiras e Todo Mundo Cabe No Mundo, conhecido por seu foco em acessibilidade.

História e superação

O primeiro registro de Carnaval em BH é de 1897, ano da fundação da cidade, quando operários da construção desfilaram pela região central. Nas décadas seguintes, surgiram batalhas de confete, a primeira escola de samba e a tradicional Banda Mole.

Porém, em 1989, uma grande chuva provocou estragos e a prefeitura suspendeu a festa. Os anos 1990 foram marcados por um apagão carnavalesco, com falta de incentivo do poder público.

A virada definitiva veio com o movimento 'Praia da Estação' em 2010, criado em resposta a um decreto que proibia eventos na Praça da Estação. A iniciativa reuniu diferentes tribos e consolidou a ideia de usar espaços públicos para celebrar.

O crescimento foi meteórico: de 70 blocos em 2013 para 140 em 2014, 403 em 2018 e mais de 500 blocos cadastrados na Belotur em 2025. O Carnaval de 2015 é considerado um marco por ter reunido mais de 1,5 milhão de pessoas nas ruas.

Hoje, o improviso dos primeiros anos deu lugar ao planejamento, com ensaios, formação de ritmistas e preocupação com a qualidade musical. Blocos como 'Então Brilha' e 'Bloco do Queixinho' se tornaram referência na cidade.

A receita do sucesso inclui o jeitinho receptivo do mineiro, a comida boa em cada esquina, as bebidas que já ganharam outros estados e os blocos de rua de todo tipo - elementos que não deixam a capital mineira perder o título de um dos melhores lugares para curtir o Carnaval no Brasil.